sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Entrevista com Caverna | Black Metal primitivo vindo do abismo


Saudações, maníacos! Iniciando os trabalhos do Under The Ground - Webzine, trazemos com satisfação uma conversa que tivemos com Sauron, guitarrista e fundador do Caverna, duo de Black Metal da cidade de Patos - PB. Aqui, falamos sobre a origem da banda, influências, e sobre como o underground nacional está rolando nos dias de hoje. Confiram e espalhem esta praga!

Vinícius(Bateria/voz) e Sauron(Guitarra)

Por Jaime "Netão" Guimarães

01 – Primeiramente, obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Caverna é uma banda nova, mas que já é relativamente conhecida no underground. Em que contexto a banda surgiu, e qual a ligação que vocês tinham com metal antes da formação da dupla? Por que um duo?

Sauron: Fala, Netão! Antes de tudo, valeu pelo convite da entrevista! Desde que eu tinha 15 anos, eu achava que já estava velho demais pra começar a tocar guitarra, o tempo passou e terminou que eu comprei meu primeiro instrumento aos 23 anos. O Caverna surgiu em março de 2012 entre os ensaios de uma banda crust/punk (que nunca saiu dos ensaios) - esquema Dischage, Anti-Cimex, Armagedom, Doom, Disrupt, dentre outras bandas nessa pegada d-beat branco no preto - que eu tinha com Vinícius na época; ele tocava baixo e cantava, eu (ainda aprendendo) tocava guitarra e outro brother nosso, Robson, assumia a bateria. Nessa época, o estúdio que a gente ensaiava era quente pra caralho, um quartinho fechado sem circulação de ar alguma. Então quando o baterista saía pra respirar e tomar uma água, Vinícius ia pra bateria e a gente ficava tirando Darkthrone, Hellhammer, Sarcófago e até compondo umas insanidades, só enquanto Robson não voltava. Até que um dia eu arrumei um gravador de voz emprestado (daqueles de fazer entrevista) para gravar essas insanidades, só pra gente não se esquecer dos riffs.  Quando fomos escutar: porra, tinha ficado sombrio, sujo e necro pra caralho!!! Fudido!!! Eis que assim surgiu Suspiria, nosso primeiro som.


02 – O duo é de Patos, interior da Paraíba, uma cidade que não tem muita tradição com o Metal. Como é a cena local, e como é para o Caverna conviver com esse cenário? Vocês também realizam eventos locais, e tem levado diversas bandas pra tocar, conte-nos sobre essa empreitada.


Sauron: Patos é uma cidade com apenas 100 mil habitantes e aqui é praticamente inexistente uma cena metálica, assim digamos. Conta-se nos dedos das mãos o poucos headbangers e, além do Caverna, só há mais uma banda de black metal chamada Virtus Inferos, que segue uma linha mais oculta, trabalhada e com teclados. É foda pra caralho! Aos poucos novos headbangers vão surgindo, outros vão caindo, e assim, lentamente, a cena vai se formando. Sempre que alguma banda amiga nossa de outro estado está passando pela região, eu e Jozélio (o açougueiro responsável pelo Inffernu’s Bar), fazemos o impossível para que o show aconteça por aqui, quase sempre levando prejuízo, mas mais por satisfação pessoal mesmo. Nessa resistência, nossos brothers do Flageladör(RJ), Beast Conjurator(PE), Carrasco(PE), Warburst Command (RN), Ataque Violento(PB), Deus Verme(RN), Lei do Cão (RN), Demonized Legion(PB), Terrible Force(PB), Endless Brutality(RN) e Suffocation of Soul(BA) já deixaram sua marca por aqui e, acredite, apesar de todas as dificuldades, isso para nós é uma satisfação sem igual.


03 – Vocês fazem um Black Metal primitivo, sujo, e com influências, que vão desde os longínquos anos 80, ao começo dos anos 90. O Caverna tem uma pegada mais raw e Old School, diferente de grande parte de bandas atuais do estilo. Fale-nos sobre como você enxerga o Black Metal que executam, e os elementos que definem o som da banda. Acha que se diferenciam no cenário atual, musicalmente falando?

Sauron: A ideia do Caverna sempre foi essa: sombria, suja, necro! Andamos na contra mão de tudo o que a maioria das bandas procuram: gravações high top, super limpas, 666 triggers na bateria, intermináveis solos de guitarra e a caralhada toda. Procuramos gravar nossos sons da maneira mais “orgânica” possível. Quando fomos gravar a demo, ligamos o gravador de voz em cima de uma cadeira no estúdio que ensaiamos e começamos a tocar. Registramos tudo de uma vez, ao vivo, em uma faixa de áudio só, ou seja, impossível mixar. (risos). Eu sempre curti muito essa pegada mais desenfreada e primitiva do metal de bandas como Sodom (estou ouvindo o In the Sign of Evil enquanto respondo a essa entrevista e é impressionante como o Witchhunter não se aquieta na bateria, perde o tempo, faz virada doida atrás de outra virada mais doida ainda. Porra, isso é foda demais!), Hellhammer/Celtic Frost, Venom, Bathory, Sarcófago, Sepultura (antigo), etc. Já Vinícius (batera/vocal) curte mais a segunda era do black metal, os anos 90, daquela onda mais fria e misantropa de bandas como Darkthrone, Nargaroth, Burzum, Dissection. Então no meio dessas influências fazemos os sons do Caverna, sem querer inovar em nada, o que pretendemos tocar já foi feito e imortalizado. Sobre se diferenciar no cenário atual, acredito que não, de 2000 pra cá várias bandas fudidas (inclusive de brothers nossos) seguem essa linha mais “orgânica” também, como Diabolic Force, Velho, Apokalyptic Raids, Power From Hell, Whipstriker, Flageladör, etc.



04 – Percebo que liricamente o Caverna aborda temas obscuros e negativos, explorando o íntimo humano, o medo, o caos e a misantropia. Fale-nos sobre o processo criativo das letras. Sei que você é um aficionado por filmes de terror e literatura fantástica, e é até envolvido com um cineclube. Já Vinícius é fanático por literatura. O quanto o cinema e literatura influenciam no processo criativo?

Sauron: Eu sou um eterno amante dos filmes de terror, desde o expressionismo alemão até os nonsenses da Troma, passando pelos clássicos de diretores como Dario Argento, Lucio Fulci, Takashi Miike, Mario Bava, John Carpenter, Ruggero Deodato, José Mojica Marins... Ah, se deixar eu vou passar o dia listando aqui. O macabro sempre me fascinou, então exponho isso nas músicas. Vinícius representa a dor, é o pessimista, vive com um livro de Schopenhauer ou Dostoievski embaixo do braço, seja pra onde for. Minhas letras são mais explícitas, sobre o oculto, morte, trevas, demônios, e geralmente baseadas e/ou inspiradas em filmes ou livros; as letras de Vinícius são mais poéticas, introspectivas, sobre medo, dor, solidão, misantropia. Em ambos os lados, procuramos falar sobre o obscuro.


05 – Este ano foi lançada a demo Anticruz, e o Caverna pôde fazer um rápido giro pelo sudeste para divulgar. Conte-nos sobre o lançamento deste material e sua divulgação. Esta demo abriu muitas possibilidades para a dupla?

Sauron: A princípio, gravamos três sons para um 3-way, que iria sair o ano passado, com o Velho(RJ) e Lenhador(RS), pela finada Cianeto Discos, mas infelizmente o selo encerrou suas atividades antes do material sair e os sons ficaram guardados. Então resolvemos lançar uma demo, a qual foi intitulada de Anticruz. Sendo assim, gravamos mais duas músicas esse ano para  fechar cinco faixas para o registro. Os desenhos das artes foram feitos pelos nossos brothers Fernando JFL (de Mossoró/RN, guitarrista da máquina de destruição chamada Cätärro) e por Eurick (de Recife/PE), (esses malditos desenham pra caralho!). O layout eu mesmo montei, e o responsável pelo lançamento foi a Obskure Chaos Distro de São Paulo/SP. A primeira prensagem foi de 100 cópias, das quais ficamos com 50, que nos três primeiros shows da nossa passagem pelo sudeste esgotaram-se, ou seja, chegamos no Rio de Janeiro, onde foi nosso último show, sem CD algum. Em Setembro, mais 100 cópias foram prensadas e, mais uma vez, nossas cópias acabaram-se de esgotar no “Giro Infernal Ato II” que fizemos com o Velho por Recife, Natal e Fortaleza, respectivamente. Uma versão DIE HARD em tape limitada a 13 malditas cópias foi lançada pela Hell Music do Rio de Janeiro, onde as capas foram desenhadas à mão, uma por uma. Loucura pura! Está previsto pra sair também, ainda esse ano, pela Black Cum Ritual da Colômbia uma versão limitada a 66 tapes onde as 15 primeiras cópias acompanharão um patch bordado, e o relançamento em tape no Brasil pela Superstitious de Aracaju/SE limitado a 50 cópias.






06 - Esta passagem pelo sudeste rendeu frutos. Recentemente foi lançado o split “Sob o ciclo de Ouroboros”, em parceria com o Velho. Como foi desenvolvida a ideia? O que se pode esperar desse material?

Sauron: Firmamos uma aliança muito forte com o Velho esse ano, tornaram-se nossos irmãos! Em nossa passagem pelo sudeste em julho desse ano, ficamos uma semana hospedados na casa do Thiago Splatter(batera do Velho), e ele nos recebeu como amigos de longa data, sendo que havíamos acabado de nos conhecer! Cedeu sua casa em total confiança, um ato que jamais iremos esquecer. Essa é uma das coisas que o subterrâneo o qual rastejamos é capaz de nos proporcionar, além do som, é uma rede de amigos que vai se ramificando e chegando cada vez mais longe. A partir dessa aliança, o split foi conspirado e materializado com o nome de “Sob o Ciclo de Ouroboros” (inspirado em “Under the Sign of the Black Mark”) representando essa aliança em um eterno ciclo de irmandade, shows, lançamentos, viagens, etc. É um split ao vivo, ou seja, as nossas insanidades em suas formas mais sinceras e genuínas! São registros de shows onde as maldições do Velho foram gravadas em Belo Horizonte/MG e as do Caverna em Sousa/PB.



07 – Por falar em Velho. Recentemente, as duas bandas realizaram o “Giro Infernal”, que consistiu em três shows na região Nordeste. Como foram as apresentações?

Sauron: INSANIDADE PURA!!! Em Julho desse ano, fizemos o “Giro Infernal Ato I” em nossa turnê pelo sudeste e agora em Outubro foi a vez do Velho vir por esses lados para o “Giro Infernal Ato II”. Dirigimos 2.000km em 3 dias, que dá uma média de 666km por dia,  praticamente sem dormir, destruindo parte do Nordeste, passando por Recife/PE, Natal/RN e Fortaleza/CE, respectivamente. Apesar do cansaço, valeu muito a pena, todos os shows foram insanos e destruidores! Foi algo que ficará marcado em nossa história para sempre. A receptividade por parte dos nossos brothers nas cidades foi algo incrível! O Casarão das Artes em Recife  ia caindo (literalmente) e o show teve que ser interrompido umas quatro vezes pelo organizador, ameaçando acabar com evento caso o caos continuasse. Mas ele é incontrolável! Mais Giros Infernais estão por vir. Aguardem-nos!


08 – Como vocês veem o underground nacional atualmente? Há quem diga que as distâncias diminuíram, e que hoje em dia é mais simples para fazer shows e levar bandas para locais mais distantes. Esta “rede” está de fato interligada? Que iniciativas destacariam?

Sauron: Costumo dizer que estamos vivendo a melhor época dos anos 2000. Daqui uns 30 anos os “anos 10” vão ser como os saudosos “anos 80” do século passado. Nunca estivemos tão fortes e interligados, acredito. Várias bandas em plena atividade, gravando, lançando material, splits, fazendo turnês... O Brasil (e até o mundo) parece ter diminuído. Jamais eu imaginei que tão cedo faríamos uma turnê pelo sudeste e ainda mais tocando ao lado de bandas que sempre curtimos muito e nos influenciaram, como Flageladör, Apokalyptic Raids, Farscape, Warhammer, Whiplash, Mpire of Evil (Hail Mantas!), etc. Bandas as quais antes aguardávamos ansiosos os seus shows e hoje fazemos parte do mesmo circuito, tocando com elas. Porra, isso é demais! Sobre as iniciativas, para nós, o Refúgio Macabro, idealizado pelo maníaco Victor Elian (do FUDIDO Escarnium de Salvador), em Sete Lagoas/MG foi um divisor de águas, lá foi a conclusão do que todos já estavam imaginando: as barreiras foram destruídas! 17 bandas das mais diversas regiões do Brasil reunidas em Minas Gerais para um evento totalmente independente e faça-você-mesmo em um esquema de cooperação mútua, sem espaço para competição. Como diria o Conquest for Death: many nations, one underground!


09 – Para 2015 o Caverna tem seu debut álbum para lançar. A quantas anda o processo para isso? Já há selos interessados? Conte-nos um pouco sobre o conceito em torno deste registro. Há muitas diferenças em relação a Anticruz?

Sauron: O disco se chamará Abismo, nome de uma música nossa que ficou fora do tracklist. Os sons já estão gravados, foram todos produzidos por Leon Manssur (Apokalyptic Raids) e Victor Whipstriker (Farscape), mixados e masterizados pelo mesmo Victor. Desde 2013, Victor já havia nos convidado pra ir ao Rio de Janeiro gravar nossos sons com ele, então no meio desse ano surgiu a nossa turnê pelo sudeste e aproveitamos pra gravar as músicas. Whipstriker sempre nos deu uma força do caralho! Quanto à gravação, ele quem idealizou e articulou tudo, em três horas gravamos 8 sons nossos (regravamos os 5 da demo + 3 novos) e 1 cover do Hellhammer com Leon nos vocais. A essência é a mesma da demo, gravação “orgânica”, 666% D.I.Y, suja e crua, a diferença é que dessa vez no lugar do gravador de voz emprestado, utilizamos 4 microfones, mas também emprestados(risos). A arte da capa está sendo desenhada pelo Murilo Pommer (responsável pelas artes do Nuclëar Fröst, Fear of the Future, Sacrilege). Sobre os selos, tudo indica que sairá pelo Metal Reunion(RJ), Desgraça na Terra Records(ES), Jazigo Distro(CE), Obskure Chaos Distro(SP) e Feeding The Abyss (PA).

Victor Canabarro(Farscape), Leon Manssur(A. Raids) e Vicnícius(Caverna).


10 – Para além do full-lenght, já há agendado, para 2015, uma turnê conjunta do Caverna com a Venomous Breath, a Under a Funeral Road Tour. Como surgiu essa oportunidade, e por que farão em conjunto com outro grupo? Quem são os parceiros nessa realização?

Sauron: Victor Elian possui a SpeedFreak, que é basicamente um doblô dedicado totalmente ao subterrâneo, em que ele faz turnês com as bandas pelo Brasil todo, onde tiver estrada ele tá passando e propagando o caos. Então, depois da nossa apresentação no Refúgio Macabro, ele nos convidou pra essa empreitada em conjunto com a Venomous Breath, outra banda irmã nossa a qual já fizemos diversos shows juntos (inclusive no Refúgio Macabro aqui citado) e que agora assumo a segunda guitarra, ou seja, perfeito pra cair na estrada em conjunto, visto que no doblô cabem 7 pessoas (ainda não sabemos se caberá 7 pessoas, instrumentos e malas. Mas foda-se, agora tem que caber.(risos)). Já estamos com quase todas as datas fechadas. Serão 15 shows, começando por Aracaju/SE e indo até Florianópolis/SC, passando pela Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, e percorrendo em média 8.000km durante o mês de janeiro todo. Vai ser destruidor!!!



11 – Mais uma vez obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Continuem no caminho da mão esquerda! Fica o espaço para quaisquer informações adicionais.

Sauron: Mais uma vez, valeu pelo convite da entrevista, meu brother Netão! Foi um prazer poder responder essas perguntas, relembrando tudo o que já rolou até então e como trilha sonora as bandas aqui mencionadas. Parabéns pelos trabalhos com o Under the Ground e com a Burial Prods, não podemos parar, seja com zines, bandas, distros, nós somos a resistência!

NO GODS! NO MASTERS! NO NAZIS! REMEMBER: ONLY DEATH IS REAL!


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Contatos do Caverna:







Saudações, maníacos!


Somos agentes do Underground. Habitamos no submundo.


Encarando o underground como espaço para livre manifestação de pensamento e arte, o Under The Ground - Webzine surge como mais uma opção de produção de conteúdo dentro da cena 'metálica' do Brasil. Nosso objetivo é divulgar bandas, selos, produtores, fanzineiros, desenhistas, designers, filmmakers, e uma infinidade de iniciativas que somem a este maldito círculo, o qual vivenciamos. 

Somos entusiastas do mais infeliz Metal Old School e seus diversos sub-gêneros, carregados de feeling maligno e da expressão que lhes é característica. Este será nosso ponto principal. Para além do Metal, também circularemos com textos esporádicos sobre filmes, livros, contos, matadores em série, e o que mais possa ser utilizado para expressar a índole maléfica e a psicopatia da nossa raça(humana).

E importante frisar. Se busca por bandas que circulam nas páginas dos grandes meios de comunicação 'especializados em metal', passe para o próximo webzine; se quer saber do último lançamento daquela banda cristã, procure a igreja mais distante; se é chegado numa intolerância racial, regional, sexual, ou apenas é defensor da família, foda-se; Se quer ler sobre campos floridos, histórias com final feliz, bandas pula-pula assessoradas por charlatões, sinto muito. Aqui não é lugar pra isso. Somos chatos,  não insistam.

Por último, mas não menos importante, queremos estimular o debate racional acerca da cultura underground no metal, conversar com quem mete as caras para fazer a coisa acontecer. Queremos discutir sobre a estrutura, os erros e acertos desta infame corrente de gente maluca. Para isso, contaremos com interesse e colaboração dos headbangers de todo o país. Entrem em contato. Sintam-se em casa!

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