Saudações, maníacos! Iniciando os trabalhos do Under The Ground - Webzine, trazemos com satisfação uma conversa que tivemos com Sauron, guitarrista e fundador do Caverna, duo de Black Metal da cidade de Patos - PB. Aqui, falamos sobre a origem da banda, influências, e sobre como o underground nacional está rolando nos dias de hoje. Confiram e espalhem esta praga!
Vinícius(Bateria/voz) e Sauron(Guitarra) |
Por Jaime "Netão" Guimarães
01
– Primeiramente, obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Caverna é uma
banda nova, mas que já é relativamente conhecida no underground. Em que
contexto a banda surgiu, e qual a ligação que vocês tinham com metal antes da
formação da dupla? Por que um duo?
Sauron:
Fala,
Netão! Antes de tudo, valeu pelo convite da entrevista! Desde que eu tinha 15
anos, eu achava que já estava velho demais pra começar a tocar guitarra, o
tempo passou e terminou que eu comprei meu primeiro instrumento aos 23 anos. O
Caverna surgiu em março de 2012 entre os ensaios de uma banda crust/punk (que
nunca saiu dos ensaios) - esquema Dischage, Anti-Cimex, Armagedom, Doom, Disrupt,
dentre outras bandas nessa pegada d-beat branco no preto - que eu tinha com
Vinícius na época; ele tocava baixo e cantava, eu (ainda aprendendo) tocava guitarra e outro brother nosso, Robson,
assumia a bateria. Nessa época, o estúdio que a gente ensaiava era quente pra
caralho, um quartinho fechado sem circulação de ar alguma. Então quando o baterista
saía pra respirar e tomar uma água, Vinícius ia pra bateria e a gente ficava
tirando Darkthrone, Hellhammer, Sarcófago e até compondo umas insanidades, só
enquanto Robson não voltava. Até que um dia eu arrumei um gravador de voz
emprestado (daqueles de fazer entrevista)
para gravar essas insanidades, só pra gente não se esquecer dos riffs. Quando fomos escutar: porra, tinha ficado
sombrio, sujo e necro pra caralho!!! Fudido!!! Eis que assim surgiu Suspiria,
nosso primeiro som.
02
– O duo é de Patos, interior da Paraíba, uma cidade que não tem muita tradição
com o Metal. Como é a cena local, e como é para o Caverna conviver com esse
cenário? Vocês também realizam eventos locais, e tem levado diversas bandas pra
tocar, conte-nos sobre essa empreitada.
Sauron:
Patos é uma cidade com apenas 100 mil habitantes e aqui é praticamente
inexistente uma cena metálica, assim digamos. Conta-se nos dedos das mãos o
poucos headbangers e, além do Caverna, só há mais uma banda de black metal
chamada Virtus Inferos, que segue uma linha mais oculta, trabalhada e com
teclados. É foda pra caralho! Aos poucos novos headbangers vão surgindo, outros
vão caindo, e assim, lentamente, a cena vai se formando. Sempre que alguma
banda amiga nossa de outro estado está passando pela região, eu e Jozélio (o açougueiro
responsável pelo Inffernu’s Bar), fazemos o impossível para que o show aconteça
por aqui, quase sempre levando prejuízo, mas mais por satisfação pessoal mesmo.
Nessa resistência, nossos brothers do Flageladör(RJ), Beast Conjurator(PE),
Carrasco(PE), Warburst Command (RN), Ataque Violento(PB), Deus Verme(RN), Lei
do Cão (RN), Demonized Legion(PB), Terrible Force(PB), Endless Brutality(RN) e Suffocation
of Soul(BA) já deixaram sua marca por aqui e, acredite, apesar de todas as
dificuldades, isso para nós é uma satisfação sem igual.
03
– Vocês fazem um Black Metal primitivo, sujo, e com influências, que vão desde
os longínquos anos 80, ao começo dos anos 90. O Caverna tem uma pegada mais raw
e Old School, diferente de grande parte de bandas atuais do estilo. Fale-nos
sobre como você enxerga o Black Metal que executam, e os elementos que definem
o som da banda. Acha que se diferenciam no cenário atual, musicalmente falando?
Sauron: A
ideia do Caverna sempre foi essa: sombria, suja, necro! Andamos na contra mão
de tudo o que a maioria das bandas procuram: gravações high top, super limpas,
666 triggers na bateria, intermináveis solos de guitarra e a caralhada toda. Procuramos
gravar nossos sons da maneira mais “orgânica” possível. Quando fomos gravar a
demo, ligamos o gravador de voz em cima de uma cadeira no estúdio que ensaiamos
e começamos a tocar. Registramos tudo de uma vez, ao vivo, em uma faixa de
áudio só, ou seja, impossível mixar. (risos). Eu sempre curti muito essa pegada
mais desenfreada e primitiva do metal de bandas como Sodom (estou ouvindo o In the Sign of Evil enquanto respondo a essa
entrevista e é impressionante como o Witchhunter não se aquieta na bateria,
perde o tempo, faz virada doida atrás de outra virada mais doida ainda. Porra, isso
é foda demais!), Hellhammer/Celtic Frost, Venom, Bathory, Sarcófago,
Sepultura (antigo), etc. Já Vinícius (batera/vocal) curte mais a segunda era do
black metal, os anos 90, daquela onda mais fria e misantropa de bandas como
Darkthrone, Nargaroth, Burzum, Dissection. Então no meio dessas influências
fazemos os sons do Caverna, sem querer inovar em nada, o que pretendemos tocar
já foi feito e imortalizado. Sobre se diferenciar no cenário atual, acredito
que não, de 2000 pra cá várias bandas fudidas (inclusive de brothers nossos) seguem essa linha mais “orgânica” também,
como Diabolic Force, Velho, Apokalyptic Raids, Power From Hell, Whipstriker,
Flageladör, etc.
04
– Percebo que liricamente o Caverna aborda temas obscuros e negativos,
explorando o íntimo humano, o medo, o caos e a misantropia. Fale-nos sobre o
processo criativo das letras. Sei que você é um aficionado por filmes de terror
e literatura fantástica, e é até envolvido com um cineclube. Já Vinícius é
fanático por literatura. O quanto o cinema e literatura influenciam no processo
criativo?
Sauron: Eu
sou um eterno amante dos filmes de terror, desde o expressionismo alemão até os
nonsenses da Troma, passando pelos clássicos de diretores como Dario Argento,
Lucio Fulci, Takashi Miike, Mario Bava, John Carpenter, Ruggero Deodato, José Mojica Marins...
Ah, se deixar eu vou passar o dia listando aqui. O macabro sempre me fascinou,
então exponho isso nas músicas. Vinícius representa a dor, é o pessimista, vive
com um livro de Schopenhauer ou Dostoievski embaixo do braço, seja pra onde
for. Minhas letras são mais explícitas, sobre o oculto, morte, trevas, demônios,
e geralmente baseadas e/ou inspiradas em filmes ou livros; as letras de
Vinícius são mais poéticas, introspectivas, sobre medo, dor, solidão,
misantropia. Em ambos os lados, procuramos falar sobre o obscuro.
05
– Este ano foi lançada a demo Anticruz, e o Caverna pôde fazer um rápido giro
pelo sudeste para divulgar. Conte-nos sobre o lançamento deste material e sua
divulgação. Esta demo abriu muitas possibilidades para a dupla?
Sauron: A
princípio, gravamos três sons para um 3-way, que iria sair o ano passado, com o
Velho(RJ) e Lenhador(RS), pela finada Cianeto Discos, mas infelizmente o selo
encerrou suas atividades antes do material sair e os sons ficaram guardados. Então
resolvemos lançar uma demo, a qual foi intitulada de Anticruz. Sendo assim,
gravamos mais duas músicas esse ano para fechar cinco faixas para o
registro. Os desenhos das artes foram feitos pelos nossos brothers Fernando JFL
(de Mossoró/RN, guitarrista da máquina de
destruição chamada Cätärro) e por Eurick (de Recife/PE), (esses
malditos desenham pra caralho!). O layout eu mesmo montei, e o responsável
pelo lançamento foi a Obskure Chaos Distro de São Paulo/SP. A primeira
prensagem foi de 100 cópias, das quais ficamos com 50, que nos três primeiros
shows da nossa passagem pelo sudeste esgotaram-se, ou seja, chegamos no Rio de
Janeiro, onde foi nosso último show, sem CD algum. Em Setembro, mais 100 cópias
foram prensadas e, mais uma vez, nossas cópias acabaram-se de esgotar no “Giro
Infernal Ato II” que fizemos com o Velho por Recife, Natal e Fortaleza,
respectivamente. Uma versão DIE HARD em tape limitada a 13 malditas cópias foi
lançada pela Hell Music do Rio de Janeiro, onde as capas foram desenhadas à
mão, uma por uma. Loucura pura! Está previsto pra sair também, ainda esse ano,
pela Black Cum Ritual da Colômbia uma versão limitada a 66 tapes onde as 15
primeiras cópias acompanharão um patch bordado, e o relançamento em tape no
Brasil pela Superstitious de Aracaju/SE limitado a 50 cópias.
06
- Esta passagem pelo sudeste rendeu frutos. Recentemente foi lançado o split
“Sob o ciclo de Ouroboros”, em parceria com o Velho. Como foi desenvolvida a
ideia? O que se pode esperar desse material?
Sauron:
Firmamos uma aliança muito forte com o Velho esse ano, tornaram-se nossos
irmãos! Em nossa passagem pelo sudeste em julho desse ano, ficamos uma semana
hospedados na casa do Thiago Splatter(batera
do Velho), e ele nos recebeu como amigos de longa data, sendo que havíamos
acabado de nos conhecer! Cedeu sua casa em total confiança, um ato que jamais
iremos esquecer. Essa é uma das coisas que o subterrâneo o qual rastejamos é
capaz de nos proporcionar, além do som, é uma rede de amigos que vai se
ramificando e chegando cada vez mais longe. A partir dessa aliança, o split foi
conspirado e materializado com o nome de “Sob o Ciclo de Ouroboros” (inspirado em “Under the Sign of the Black
Mark”) representando essa aliança em um eterno ciclo de irmandade, shows,
lançamentos, viagens, etc. É um split ao vivo, ou seja, as nossas insanidades
em suas formas mais sinceras e genuínas! São registros de shows onde as maldições do
Velho foram gravadas em Belo Horizonte/MG e as do Caverna em Sousa/PB.
07
– Por falar em Velho. Recentemente, as duas bandas realizaram o “Giro
Infernal”, que consistiu em três shows na região Nordeste. Como foram as
apresentações?
Sauron:
INSANIDADE PURA!!! Em Julho desse ano, fizemos o “Giro Infernal Ato I” em nossa
turnê pelo sudeste e agora em Outubro foi a vez do Velho vir por esses lados
para o “Giro Infernal Ato II”. Dirigimos 2.000km em 3 dias, que dá uma média de 666km por dia, praticamente sem
dormir, destruindo parte do Nordeste, passando por Recife/PE, Natal/RN e
Fortaleza/CE, respectivamente. Apesar do cansaço, valeu muito a pena, todos os
shows foram insanos e destruidores! Foi algo que ficará marcado em nossa
história para sempre. A receptividade por parte dos nossos brothers nas cidades
foi algo incrível! O Casarão das Artes em Recife ia caindo (literalmente) e o show teve que ser
interrompido umas quatro vezes pelo organizador, ameaçando acabar com evento
caso o caos continuasse. Mas ele é incontrolável! Mais Giros Infernais estão
por vir. Aguardem-nos!
08
– Como vocês veem o underground nacional atualmente? Há quem diga que as
distâncias diminuíram, e que hoje em dia é mais simples para fazer shows e
levar bandas para locais mais distantes. Esta “rede” está de fato interligada?
Que iniciativas destacariam?
Sauron:
Costumo dizer que estamos vivendo a melhor época dos anos 2000. Daqui uns 30
anos os “anos 10” vão ser como os saudosos “anos 80” do século passado. Nunca
estivemos tão fortes e interligados, acredito. Várias bandas em plena
atividade, gravando, lançando material, splits, fazendo turnês... O Brasil (e até o mundo) parece ter diminuído. Jamais
eu imaginei que tão cedo faríamos uma turnê pelo sudeste e ainda mais tocando ao
lado de bandas que sempre curtimos muito e nos influenciaram, como Flageladör,
Apokalyptic Raids, Farscape, Warhammer, Whiplash, Mpire of Evil (Hail Mantas!), etc. Bandas as quais
antes aguardávamos ansiosos os seus shows e hoje fazemos parte do mesmo
circuito, tocando com elas. Porra, isso é demais! Sobre as iniciativas, para
nós, o Refúgio Macabro, idealizado pelo maníaco Victor Elian (do FUDIDO Escarnium de Salvador), em
Sete Lagoas/MG foi um divisor de águas, lá foi a conclusão do que todos já
estavam imaginando: as barreiras foram destruídas! 17 bandas das mais diversas
regiões do Brasil reunidas em Minas Gerais para um evento totalmente
independente e faça-você-mesmo em um esquema de cooperação mútua, sem espaço
para competição. Como diria o
Conquest for Death: many nations, one underground!
09
– Para 2015 o Caverna tem seu debut álbum para lançar. A quantas anda o
processo para isso? Já há selos interessados? Conte-nos um pouco sobre o
conceito em torno deste registro. Há muitas diferenças em relação a Anticruz?
Sauron: O
disco se chamará Abismo, nome de uma música nossa que ficou fora do tracklist. Os
sons já estão gravados, foram todos produzidos por Leon Manssur (Apokalyptic Raids) e Victor Whipstriker
(Farscape), mixados e masterizados pelo
mesmo Victor. Desde 2013, Victor já havia nos convidado pra ir ao Rio de Janeiro
gravar nossos sons com ele, então no meio desse ano surgiu a nossa turnê pelo
sudeste e aproveitamos pra gravar as músicas. Whipstriker sempre nos deu uma
força do caralho! Quanto à gravação, ele quem idealizou e articulou tudo, em três
horas gravamos 8 sons nossos (regravamos os 5 da demo + 3 novos) e 1 cover do
Hellhammer com Leon nos vocais. A essência é a mesma da demo, gravação
“orgânica”, 666% D.I.Y, suja e crua, a diferença é que dessa vez no lugar do
gravador de voz emprestado, utilizamos 4 microfones, mas também emprestados(risos).
A arte da capa está sendo desenhada pelo Murilo Pommer (responsável pelas artes do Nuclëar Fröst, Fear of the Future, Sacrilege).
Sobre os selos, tudo indica que sairá pelo Metal Reunion(RJ), Desgraça na Terra
Records(ES), Jazigo Distro(CE), Obskure Chaos Distro(SP) e Feeding The Abyss
(PA).
Victor Canabarro(Farscape), Leon Manssur(A. Raids) e Vicnícius(Caverna). |
10
– Para além do full-lenght, já há agendado, para 2015, uma turnê conjunta do
Caverna com a Venomous Breath, a Under a Funeral Road Tour. Como surgiu essa
oportunidade, e por que farão em conjunto com outro grupo? Quem são os
parceiros nessa realização?
Sauron:
Victor Elian possui a SpeedFreak, que é basicamente um doblô dedicado totalmente
ao subterrâneo, em que ele faz turnês com as bandas pelo Brasil todo, onde
tiver estrada ele tá passando e propagando o caos. Então, depois da nossa
apresentação no Refúgio Macabro, ele nos convidou pra essa empreitada em
conjunto com a Venomous Breath, outra banda irmã nossa a qual já fizemos
diversos shows juntos (inclusive no
Refúgio Macabro aqui citado) e que agora assumo a segunda guitarra, ou
seja, perfeito pra cair na estrada em conjunto, visto que no doblô cabem 7
pessoas (ainda não sabemos se caberá 7
pessoas, instrumentos e malas. Mas foda-se, agora tem que caber.(risos)). Já
estamos com quase todas as datas fechadas. Serão 15 shows, começando por
Aracaju/SE e indo até Florianópolis/SC, passando pela Bahia, Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, e percorrendo em média 8.000km
durante o mês de janeiro todo. Vai ser destruidor!!!
11
– Mais uma vez obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Continuem no
caminho da mão esquerda! Fica o espaço para quaisquer informações adicionais.
Sauron: Mais
uma vez, valeu pelo convite da entrevista, meu brother Netão! Foi um prazer
poder responder essas perguntas, relembrando tudo o que já rolou até então e como
trilha sonora as bandas aqui mencionadas. Parabéns pelos trabalhos com o Under
the Ground e com a Burial Prods, não podemos parar, seja com zines, bandas,
distros, nós somos a resistência!
NO GODS! NO MASTERS! NO
NAZIS! REMEMBER: ONLY DEATH
IS REAL!
666
Contatos
do Caverna:
Email: saurontl@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/caverna666
Bandcamp: http://666caverna.bandcamp.com/
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