Nos últimos meses um movimento começou a ganhar força. Vindo das tropicais terras do Rio de janeiro, e legitimamente das entranhas do underground, surge a União Headbanger RJ, um coletivo que abarca bangers, bandas, produtores, zineiros, selos, distros, etc; e vem realizando uma série de eventos em prol da cena local. conversamos com a UH sobre a iniciativa, a postura do grupo, e como eles agem no subterrâneo. Acompanhem e compartilhem!
Por Jaime "Netão" Guimarães
1.
Saudações, Maníacos! Como a união headbanger RJ formou-se? O que motivou esse
movimento? Que bandas, selos e distros participam da iniciativa?
UH:
Todos estavam reunidos em um show no Subúrbio Alternativo em Brás de Pina do
Rio de Janeiro. Conversamos sobre a necessidade de unir esforços pra manter a
cena mais ativa e então decidimos formar esse coletivo. A ideia é organizar
shows com bandas locais e de fora do Rio, mantendo também a integração com
outros estados. A União Headbanger deve ser nacional, mundial, e não estar
restrita ao Rio. Além disso, já estamos lançando um zine de papel para começar
a documentar a história do presente. Quem tiver a mesma vontade de união pode
juntar-se a nós. Somos ao mesmo tempo um coletivo de bandas, selos,
distribuidoras, organizadores de shows, ziners e bangers. Não vou citar nomes
por agora. Vá aos nossos encontros, ouça nossa coletânea que distribuímos
gratuitamente, leia nosso zine.
2.
Que perfil vocês traçariam acerca do Metal no Rio de janeiro? E como a UH se
encaixa nesse todo?
UH:
Como
em qualquer lugar do mundo, há pessoas que se interessam pelo underground e há
outras (a maioria) que pensam de modo competitivo e por isso fazem tudo pra
alcançar o mainstream. O Rio também é assim. A União Headbanger sempre será
minoria dentro da cena. Estamos construindo uma história independente. Não
precisamos de grandes produtores, anúncios em revistas ou qualquer coisa do
tipo. A União Headbanger produz shows e direciona todo o dinheiro para as
bandas que estão tocando. Nosso zine custa apenas 1 real, que é o preço para
fazermos mais cópias. União Headbanger significa: Faça-você-mesmo;
Independência; União.
3.
Pelo perfil da UH no Facebook, pude acompanhar que, vez ou outra, vocês
reafirmam as posturas do coletivo e
esclarecem que ele não existe para excluir pessoas por gostos diferentes ou
problemas pessoais. Além disso, os membros fazem parte de um grupo de amizade
de longa data. Acha que isso pode deixar alguns com pé atrás, ou com receio de
se integrar? Novos grupos e indivíduos vêm se juntando à União?
UH:
Sim, como qualquer grupo temos uma postura bem definida. O coletivo está sempre
aberto para receber novas pessoas. No entanto, justamente porque temos
liberdade de escolher com quem vamos nos juntar, optamos por não nos associar
com pessoas e produtores que estejam ligados a algumas ideologias: fascismos em
geral e religiões quaisquer. Somos a favor da liberdade e acreditamos que
fascismos e religiões são os pontos mais opressores e controladores de uma
sociedade. Infelizmente, para pregar a liberdade temos que excluir quem é
contra a liberdade. É muito simples nossa postura, mas algumas pessoas
problematizam o óbvio. Cada vez mais bangers têm ido aos encontros que fazemos
em diversos pontos do Rio aos sábados. O mesmo acontece em nossos shows. E se
alguém tem receio de se juntar a nós é porque bate de frente com nossas ideias.
Normalmente quem critica a União Headbanger é fascista, religioso ou “I wanna
be mainstream”.
Reunião de bangers da UH no Rio de janeiro |
4.
Ao mesmo tempo, com a facilidade de comunicação que existe hoje – a internet –
a UH ultrapassa os limites físicos de seu Estado e atinge headbangers
simpatizantes em diversas regiões do país. A que isso se deve? Acham que a
popularidade de alguns grupos que a compõe, vide Apokalyptic Raids,
Whipstriker, The Unhaligäst, contribuem para essa empatia? Acreditam que essa
ideia de união e cooperação pode espalhar-se por outros locais?
UH:
A
internet é um grande veículo de comunicação. O que fazemos é utilizá-la a nosso
favor. Mas preferimos ir além do virtual e estabelecer conexões através de
veículos físicos. Por isso começamos a fazer o zine de papel, assim como CDs
com músicas de bandas do Rio. A ideia já se espalhou por vários estados. O
tempo inteiro recebemos mensagens perguntando sobre nossa forma de
funcionamento, sobre como organizamos os shows, qual é nossa proposta, etc. Em
todos os lugares existem bangers com esse pensamento de coletividade. A
popularidade dessa ideia deve-se ao fato de que existem bangers reais em todos
os lugares, ou seja, bangers que querem produzir Heavy Metal PARA o Heavy
Metal. As bandas que você citou são apenas bandas que pensam dentro dessa
perspectiva. No Brasil existem muitas outras que se identificam com esse
pensamento de coletividade e independência.
5.
Há previsto o lançamento do União Headbanger Zine, que acontecerá esse mês em
conjunto com a realização do We Want Armageddon Vol 4. Contem-nos sobre essas
empreitadas. O zine marcará um ano de UH, o que pôde ser feito nesse tempo?
Como será feita a distribuição?
UH:
A
ideia do zine sempre existiu e finalmente conseguimos por em prática. Será
lançado dia 27 de dezembro de 2014 e marca um ano do nosso projeto coletivo.
Nesse tempo fizemos vários encontros (sem shows) na Lapa, centro do Rio de
Janeiro, produzimos uma coletânea em CD-R para espalhar a ideia pelo Brasil e
outros países e organizamos mais de 20 shows em diferentes partes do Rio (Zona
Sul, Centro, Zona Norte, Baixada Fluminense). Cumprimos perfeitamente com a
ideia que planejamos desde o começo. As coletâneas são distribuídas em shows undergrounds
do Rio e do Brasil. Também temos distribuidores da coletânea na Alemanha,
França, Itália, Bélgica, República Tcheca, Portugal, Espanha, Estados Unidos,
México, Canadá, Peru, Bolívia, Argentina, Japão, Malásia e Indonésia. Quem
distribui é porque faz parte de alguma banda underground ou possui um selo que
lança bandas undergrounds. O zine ficará restrito ao Brasil porque sempre será
lançado apenas em português. Talvez enviemos para alguns países de língua
espanhola (talvez).
Capa do União Headbanger Zine |
6.
Recentemente a cena underground nacional
passou por algumas turbulências, a exemplo de cancelamentos de shows,
confusões, e, o mais notável, a questão envolvendo o festival Zoombie Ritual.
Como vocês enxergam esse momento do Metal Nacional? O que acham da realização
de grandes festivais no país?
UH:
Isso
é uma opinião divergente dentro do grupo. O que é consenso é o fato de
boicotarmos produtores que estejam envolvidos com alguma forma de corrupção. O
que sempre discutimos é que existem outros festivais mais legais de serem
apoiados, como o Evisceration Metal Fest na Bahia, o Kill Again Fest em
Brasília, O Culto ao Macabro no Rio Grande do Norte, O Metalpunk Overkill de
Minas Gerais e vários outros eventos que ocorrem com frequência dentro do
Brasil e que sempre privilegiam bandas undergrounds. A Cena não vive de shows
com bandas “grandes”. A cena sempre viverá e existirá através do underground. O
fato é que preferimos fazer a nossa parte sem pensar em grandes festivais com
bandas mainstream. Optamos por trazer pro Rio bandas com postura underground.
Nesse próximo evento estamos trazendo uma banda underground de Black Metal da
Colômbia, o The Satan's Scourge.
7. Há pouco mais de uma semana aconteceu o
Evisceration Metal Fest, na Bahia. O festival, que contou com mais de 30 bandas
nacionais, acabou por não conseguir se pagar, gerando um grande prejuízo para a
produção. Logo formou-se uma corrente de várias pessoas do underground visando
ajudar os produtores a diminuírem suas perdas. A União Headbanger RJ também
está envolvida. O que podem falar desse episódio? Como é ver o underground se mobilizando desta
maneira?
UH:
Nós achamos que essa é a postura ideal. Quando
soubemos do prejuízo do festival procuramos ajudar de alguma forma. E a forma
mais fácil e viável é organizar um evento para levantar fundos. Faremos isso no
início de fevereiro. Essa atitude mostra realmente o que é e como deve
funcionar o underground, ou seja, através da ajuda mútua, do coletivismo.
Imagina se um produtor faz um show do Iron Maiden e toma prejuízo. Você
consegue imaginar outros produtores se mobilizando para arrecadar fundos? Claro
que não! Porque no mainstream o importante é o dinheiro. No underground,
procuramos viver a margem desse tipo de ideia.
8.
Ainda sobre festivais. Logo após o final
do Zoombie Ritual espalhou-se a notícia da realização do Monsters Of Rock, com
grandes bandas mainstream. A procura por ingressos é enorme, enquanto eventos
underground suam para colocar 300 pessoas em uma casa de shows. Na sua visão,
por que o headbanger brasileiro dá tanta importância a eventos grandes e pouco
a iniciativas subterrâneas? A mídia
especializada contribui pra isso? Há como mudar esse quadro?
UH:
Como
foi exposto acima, a maior parte das pessoas vive no mundo mainstream. Essas
pessoas só conhecem as bandas que saem nas “revistas grandes”, onde é
necessário pagar para ser exposto. Quantas vezes o Angra saiu na capa daquela
revista de São Paulo? Muitos bangers undergrounds vão ao Monsters of Rock pelo
motivo óbvio de que são bandas clássicas que influenciaram e influenciam até
hoje milhares de pessoas. Minha mãe conhece Kiss e Ozzy, mas você acha que ela
é headbanger? O que estou querendo dizer é que nesse tipo de evento a maior
parte do público nem sequer sabe o que é e o que se passa no underground. São
pessoas com mentalidade diferente, são eventos com mentalidade diferente.
Respeitamos e fazemos nossa parte à margem disso tudo.
Coletânea União Headbanger RJ - Foto por Slanderer Possessed |
9.
O que a União Headbanger RJ planeja para 2015? Há possibilidade de um grande
festival, sugerido por Victor Whipstriker?
UH:
Não
sabemos ainda se isso será viável. O Victor soltou a ideia e todos nós queremos
muito realizar esse grande evento trazendo bandas undergrounds de todas as
regiões do Brasil para o Rio de Janeiro. Mas diante dos altíssimos custos com
equipamentos e aluguéis, ainda vamos nos reunir várias vezes antes de decidir o
que fazer, afinal, não queremos fazer um “ritual de zumbis” na nossa cena.
10.
Agradeço o tempo cedido. Fica o espaço para quaisquer considerações.
UH:
Nós
agradecemos pelo espaço e deixamos claro que somos a favor, apoiamos e
respeitamos todas as iniciativas undergrounds. Shows, zines, blogs, selos,
distribuidoras. Repetimos que somos contra posturas religiosas, violência e
qualquer tipo de fascismo (homofobia, racismo, machismo etc). União Headbanger
é a união do underground livre e independente.
Contato:
666!
Ótima entrevista. Li na íntegra, e a iniciativa da UH do RJ é uma exemplo a ser seguido nas demais regiões. No meu True Highlander Fanzine #02, com o UnhaliGast na capa, o Alan Aguinaga fala bastante tb sobre como funciona toda essa organização subterrânea de bangers.
ResponderExcluirMassa, cara. Cheguei a ver a capa do True Highlander! Valeu!
ExcluirSou editor do zine the return zine ak em uberlandia,e gostaria que voces entra se em contato vou deixar o endereco ludcarlos577@gmail.com
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