Por Jaime "Netão" Guimarães
Chuck Palahniuk é um dos
escritores mais prolíficos dos últimos 20 anos. O americano Debutou já
escrevendo talvez o seu maior clássico até hoje, o romance Clube da Luta, de
1996, que em 99 foi maravilhosamente adaptado para o cinema com direção de
David Fincher e tendo Brad Pitt e Edward Norton como protagonistas. No entanto, desde o início de sua carreira
como escritor não parou de produzir. Inclusive, há previsão para o lançamento
da sequência de Fight Club, que deve chegar às prateleiras em 2015.
As histórias de Palahniuk
giram em torno da marginalidade, violência, destruição e outros tantos
elementos tidos como negativos. Seus personagens são quase sempre seres exclusos
de seus meios sociais, seja a sociedade comum, a família, o “sistema”; são
pessoas deslocadas de uma vida “normal”, com problemas de se encaixar, de
psicológico transtornado e de visões de mundo deturpadas, que tendem a
tornar-se perigosas. Talvez a vida de Chuck o tenha moldado seu estilo, ele
teve o pai assassinado em um crime passional, quando ainda era adolescente; e
em outro fatídico caso, seu avô cometeu suicídio após matar a esposa.
Eis o motivo dessa postagem:
Guts(Tripas).
Guts é um conto que está
presente no livro Haunted(2005). Neste texto em questão, Palahniuk expõe casos
de garotos, que têm, digamos, estranhas maneiras na prática da masturbação
frenética. O conto trata de tabus, de
coisas que as pessoas não querem falar, que são jogadas pra debaixo do tapete
ou trancadas numa caixa de esquecimento. O que chama atenção em Guts é a forma
com que a história é contada. Dotando de uma linguagem extremamente chocante e
agressiva, Chuck Palahniuk deixa o leitor encabulado com o detalhamento que dá
à sua escrita; causando por vezes uma agonia que faz a pessoa desviar o olhar do
texto. Há relatos que que, durante uma leitura feita pelo próprio autor,
algumas pessoas vieram a desmaiar, devido ao forte conteúdo(Mas isso está mais
para lenda).
Guts é um conto Death Metal,
não é para estômagos fracos. Por isso, maníacos, trago aqui a tradução do texto
na íntegra, para apreciação dos que ainda não conhecem essa pérola do século
XXI. Após lerem o que vem a seguir, uma cenoura jamais será encarada da mesma
forma.
Sim...não fui eu quem
traduziu. "Peguei emprestada" essa versão de lendasurbanas.wordpress.
Boa Leitura!
Boa Leitura!
__
Inspire.
Inspire o máximo de ar que
conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue
segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.
Um amigo meu aos 13 anos
ouviu falar sobre “fio-terra”. Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda.
Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos
explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco
sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para
comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele
então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e
o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa.
Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que
ele preparou.
Então, esse amigo compra
leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de
cenoura. E vaselina.
Como se ele fosse para casa
enfiar um bolo de cenoura no rabo.
Em casa, ele corta a ponta
da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então,
nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.
Então, esse garoto, a mãe
dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.
Ele remove a cenoura e
coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.
Depois do jantar, ele
procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto
ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não
encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda
lustrosa de lubrificante e fedorenta.
Esse amigo meu, ele espera
por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem
isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em
toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de
páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira
por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.
As pessoas na França possuem
uma expressão: “sagacidade de escadas.” Em francês:esprit de l’escalier.
Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais.
Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo.
Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em
que sai da festa….
Enquanto você desce as
escadas, então – mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito.
A réplica mais avassaladora.
Esse é o espírito da escada.
O problema é que até mesmo
os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz
sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.
Alguns atos são baixos
demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.
Agora que me recordo, os
especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a
maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto
se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do
pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto.
Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças
no garoto. Faziam parecer… melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de
triste suicídio adolescente.
Outro amigo meu, um garoto
da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio
se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha
desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público
vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é
apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua
mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma
dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os
árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a
extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso
os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.
Esse irmão mais velho
viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de
punhetagem.
Depois disso, o irmão mais
novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu
pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.
Ele tem que compartilhar um
quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos
compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma
cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele
queriam matar o irmão mais velho da Marinha.
Pelo telefone, o garoto diz
que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele
deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas
pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele
recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se
masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma
caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo
canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as
pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de
suas mãos. Longo, e liso, e fino.
Chapado e com tesão, ele
enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com
uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.
Até mesmo nesse momento ele
reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram
totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão
boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando
percebe que a cera não está mais lá.
O fino filete de cera
entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de
seu pau.
Das escadas, sua mãe grita
dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O
garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam
basicamente a mesma vida.
Depois do jantar, as
entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá
derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus
rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.
O garoto falando pelo
telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas
gritando. Game shows.
Os raios-X mostram a
verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V
dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e
mais espesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a
frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão
cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.
O garoto e seus pais, a
família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras
ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a
verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos
mais velho da Marinha escreveu.
No telefone, nesse momento,
ele começa a chorar.
Eles pagam pela operação na
bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora
ele nunca mais será um advogado.
Enfiando coisas dentro de
você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó,
sabíamos que não poderia acabar em problemas.
O que me fez ter problemas,
eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d’água, sentando
no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da
piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro
minutos.
Só de bater punheta eu tinha
conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu
faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em
grandes e gordas gotas.
Depois disso eram mais
alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma
toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha
irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.
Esse era meu maior medo:
minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz
a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o
tio. No fim, são as coisas nais quais você não se preocupa que te pegam.
A melhor parte da Pesca
Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar
nela.
Como os franceses dizem,
Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um
garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.
Num minuto eu estou no fundo
da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois
metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas
do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta
do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que
apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da
saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela
sensação.
Num momento eu tenho ar o
suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha
irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.
Minhas mãos começam a
punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.
Faço isso de novo, e de
novo.
Deve ser por isso que
garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca
acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater
do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz
começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas
esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando
enrugados por estar tanto tempo na água.
E então acontece. As gotas
gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando
tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim.
Minha bunda está presa.
Médicos de plantão de
emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa
forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o
traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na
Flórida.
As pessoas simplesmente não
falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho
no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou
saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora
da água também.
Ainda nadando, mexendo meus
dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou
indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e
mais forte.
As brilhantes fagulhas de
luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás… mas não faz sentido. Uma
corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do
duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão
sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por
pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e
dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma
refeição semi-digerida.
Só há uma explicação. Algum
horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia,
estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me
comer.
Então… eu chuto a coisa,
chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está
saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda
segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir
respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de
escapar.
Dentro da cobra, é possível
ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles
tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para
conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.
Ver essa pílula foi o que me
salvou a vida.
Não é uma cobra. É meu
intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos
chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.
Os médicos de plantão de
emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de
água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é
que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da
sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que
chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai
perceber como isso pode acontecer.
O que eu posso dizer é que
suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As
coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo
está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.
Essa sopa de sangue, milho, merda,
esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo
meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de
colocar meu calção de alguma forma.
Deus proíba que meus pais
vejam meu pau.
Com uma mão seguro a saída
do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço.
Mesmo assim, é impossível puxar de volta.
Se você quer sentir como
seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de
carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e
coloque debaixo d’água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e
ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.
Uma camisinha dessas é feita
do bom e velho intestino.
Você então vê contra o que
eu lutava.
Se eu largo, sai tudo.
Se eu nado para a
superfície, sai tudo.
Se eu não nadar, me afogo.
É escolher entre morrer
agora, e morrer em um minuto.
O que meus pais vão
encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado.
Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga
corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula
enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13
anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e
eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus
sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas
gordas de esperma.
Ou isso, ou meus pais me
encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e
o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do
meu calção amarelo-listrado.
Algo sobre o qual nem os
franceses falam.
Aquele irmão mais velho na
Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito
que nós falamos “Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça…,” os russos
dizem, “Preciso disso como preciso de dentes no meu cú……
Mne eto nado kak zuby v zadnitse.
Essas histórias de como
animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote
poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.
Droga… mesmo se você for
russo, um dia vai querer esses dentes.
Senão, o que você pode fazer
é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna
para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você
consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.
Não é algo que seja bom contar
a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de
despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do
mar.
É difícil dizer o que
enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois
do hospital, minha mãe dizia, “Você não sabia o que estava fazendo, querido.
Você estava em choque.” E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.
Todas aquelas pessoas
enojadas ou sentindo pena de mim….
Precisava disso como
precisaria de dentes no cú.
Hoje em dia, as pessoas
sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam
quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar.
Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai
ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo
intacto na privada.
Depois que você passa por
uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A
maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de
ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador
de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da
cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava
aos 13 anos.
Outro problema foi que meus
pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o
cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se
afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o
filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma
grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, “Aquela porra
daquele cachorro era maluco.”
Mesmo do meu quarto no
segundo andar, podia ouvir meu pai falar, “Não dava para deixar aquele cachorro
sozinho por um segundo….”
E então a menstruação da
minha irmã atrasou.
Mesmo depois que trocaram a
água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois
do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram
mais isso novamente.
Nunca.
Essa é a nossa cenoura
invisível.
Você. Agora você pode
respirar.
Eu ainda não.
__
666
Nenhum comentário:
Postar um comentário