Daniel Duracell, Björn Freese, Michael "Micha" Koch (Foto by Melanie "FreakyD.com") |
O Incarceration surgiu em Manaus no ano 2010. Até então como uma 'one man ban' formada por Daniel "Duracell" Silva. Em 2011 o deathmaníaco se mudou para a Alemanha e lá firmou a formação do grupo como um power trio. Desde então o Incarceration vem destruindo tudo pela Europa com seu Death Metal rápido e desgraçado. Conversamos com Duracell, que nos falou sobre estabilização do grupo, turnês no velho continente e uma possível vinda ao Brasil. Confiram!
por Jaime “Netão” Guimarães
1 – Saudações, Duracell! Incarceration é uma banda com dupla
nacionalidade, que teve seu início no Brasil. Como foi a mudança para a
Alemanha e formação e estabilização do restante do grupo? Foi difícil se
adaptar ao novo país? Como foi o contato
com Michael e Björn?
Duracell: Fala Jaime, beleza? Obrigado pela entrevista e parabéns pelo Under the
Ground! Então, o Incarceration teve início em 2010 enquanto eu ainda morava em
Manaus. Na época era apenas um projeto solo meu, paralelo às atividades da
minha outra banda, o Mortificy. Em 2011 me mudei pra Alemanha (devido à minha
mulher que é alemã), e precisava 'tocar'. Sobre a adaptação o mais difícil foi
o idioma - aprender alemão de fato não foi fácil -, mas após um ano estudando
isso foi superado. Nesse meio tempo segui compondo novos sons, e sempre que ia
aos shows em Hamburgo eu perguntava dos bangers pelo baixista e baterista mais
fudidos da cena. Passado algum tempo me apresentaram o Björn e um tempo depois
o Micha. Eles curtiram o material que eu já tinha gravado sozinho daí marcamos
um ensaio. Neste primeiro encontro tocamos várias vezes o som 'Sacrifice' e foi
bem animal. Tocamos, batemos cabeça fudidamente, e naquele momento ficou bem
claro que o Incarceration estava completo.
Daniel Duracell in Koblenz (Foto by Bettina Mayer) |
2 – Como é o processo de composição da banda? Todos os membros participam?
Ouvindo o som fica claro que a influência direta é o Old Death Metal, rápido e
desgraçado; mas, além de bandas, o que mais está presente na base do
Incarceration? Seja musical ou liricamente.
Duracell: O Incarceration começou como projeto solo meu, nessa época cheguei até
a gravar um som completamente sozinho. Nisso, acabei desenvolvendo uma
independência muito grande em todo o processo de composição. Até o presente
momento isso não mudou muito: continuo compondo sozinho. Até agora todos os
riffs e letras são meus, exceto por uma letra que o Micha escreveu e que
possivelmente vai figurar no nosso Debut Album. Ele é muito talentoso e
acredito que no próximo álbum teremos mais contribuições suas. Sobre nossas
influências temos uma gama gigante, mas em resumo somos inspirados pelos riffs
mais rápidos de bandas fudidas como velho Slayer, Sepultura, Repulsion,
Sadistic Intent, Repugnant, Entombed, Kaamos, Verminous, Merciless, Malevolent
Creation, Morbid Angel, Ratos de Porão, Sadus, Dark Angel, entre mais uma
porrada de bandas. Sobre a parte lírica, tem certeza que você quer saber sobre
isso (risos)? Talvez seja um papo meio baixo astral, mas vamos lá! Liricamente
abordo muito as condições existenciais humanas. Antes de sair do Brasil me
formei em psicologia, estudei alguns períodos de filosofia também e com isso
nutri um interesse grande pelo existencialismo. É impossível existir sem
sofrer, sem sentir medo, raiva, angústia, ódio, e sem morrer no final, concorda?
E mais: vivemos 'pequenas mortes' a todo instante: um relacionamento que
termina, um momento que fica pra trás, estamos cercados de diversas mortes, de
diversos 'fins' no nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, nessa caminhada rumo ao fim
das nossas vidas, temos que fazer, a todo instante, várias escolhas. Vivemos em
um labirinto, onde a cada instante temos que tomar decisões das mais simples às
mais complexas. Quem está lendo estas palavras nesse momento escolheu fazer
isso, mas poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Essa escolha implica ao
mesmo tempo em sacrificar uma infinidade de outras escolhas. Estamos todos
encarcerados (daí o nome Incarceration), condenados à essa liberdade/obrigação
de escolher como caminhar em nossos labirintos da existência, enquanto o tempo
segue cada vez mais rápido nos empurrando para os nossos abismos pessoais.
Nessa caminhada temos ainda a companhia de vários demônios que habitam dentro
de nós, sedentos e sempre buscando se libertar. Nossos desejos, anseios, nossas
vontades - muitas delas bem perversas, mundanas e profanas. Isso gera conflito
e no meu caso eu transformo esse conflito em Death Metal. Então é sobre esses
conflitos e sobre essa forma peculiar de entender o humano que berro no
Incarceration: sofrimento, caos, desgraças, perversidade, profanação, demônios
e morte. Mas isso é algo bem pessoal meu mesmo e não quero continuar alugando
vocês com esse papo não, bora voltar a falar de som aê! (risos)
3 – Vocês lançaram até agora dois materiais: o split Decrepit
Aberration(2012), lançado de forma digital junto com o Escarnium(!) do Brasil,
e o EP Sacrifice(2013), este lançado em forma de K7, CD e LP, por alguns selos.
Como tem sido a circulação desse material? Qual o suporte dado pelos diversos
selos que lançaram o Incarceration?
Duracell: Escarnium é uma banda que tem uma influência gigante na história do
Incarceration, e esse split foi uma forma simbólica da gente registrar essa
irmandade. É o único registro com o Incarceration da época 'one man band'. Não
chegou a sair em formato físico, nós fizemos arte de encarte, capa e tudo mas a
distribuição é apenas online mesmo. Quem procurar acha fácil pra baixar. Sobre
o EP Sacrifice felizmente tem rolado muito bem. Saiu em tape, vinil e CD, e
está tudo esgotado. As tapes esgotaram em questão de dias, e o vinil/CD
esgotaram em menos de um ano após o lançamento. Ainda tem umas últimas cópias
circulando em algumas distros underground, mas tem que garimpar um pouco. Quem
lançou foi a FDA Rekotz (Alemanha), Dawnbreed Records (Holanda) e Misanthropic
(Brasil). Esses três selos deram uma força sem tamanho, acreditaram no
Incarceration enquanto ninguém nunca tinha ouvido falar da gente. Pra gente
significa muito e agradecemos muito aos selos e a todos que cataram qualquer
material.
4 – Há também o clipe da faixa
Forsaken and Forgotten, presente do EP. A produção ficou simples, mas muito bem
realizada. É um belo “cartão de apresentação”. Quem foi o diretor? Ficaram
satisfeitos com o produto? O que acha do audiovisual enquanto ferramenta para
promoção de uma banda?
Duracell: Por acaso um dia eu conheci um estudante de cinema muito gente boa
chamado Mike. Ele disse que tinha uma câmera bacana e daí dei a ideia do clipe,
ele curtiu e fizemos. O clipe foi gravado no nosso estúdio de ensaio mesmo (na
Europa as bandas se juntam, alugam uma sala, colocam os próprios ‘equipos’ lá e
ensaiam). Foi bem simples: nós tocamos Forsaken and Forgotten umas 10 vezes, e
a cada vez ele fazia filmagem de um ângulo diferente. No final ele pegou os
takes que ele curtiu mais, editou e já era. Nós curtimos bastante o resultado
final sim. A gente curte muito convidar amigos pros nossos ensaios, às vezes até
organizamos shows privados no nosso estúdio. Com esse clipe nós pudemos mostrar
a todos um pouco de como é isso. Nosso espaço, e como funcionamos quando
fazemos som juntos. Isso ajudou bastante na divulgação da banda também,
definitivamente. Enquanto não podemos fazer um show no Brasil, por exemplo,
pelo menos tem como os bangers verem esse vídeo (e os outros que tão rolando) e
ficarem mais na pilha pra ver a gente em ação. (risos) \m/
5 – Em 2013 ocorreu uma turnê na Europa, também com o Escarnium. Como
foi a experiência de excursionar por 7 países diferentes? A recepção aos shows
foi boa?
Duracell: Essa tour foi massa demais. Um monte de filho da puta viajando e
tocando em todo canto, não tem como não ser divertido(risos). Tocamos pela
Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália, República Tcheca, França e Suíça. Quando
planejamos essa tour eu ainda não conhecia o Björn nem o Micha, então o plano
era o Incarceration tocar com o line-up brasileiro (eu, Victor Escarnium e
Nestor Carrera). Quando chegou a Tour, o line-up alemão já estava afiado então
alguns shows rolaram com os alemães e outros com o brazucas. O primeiro show
com os brasileiros foi em Milão na Itália. Eu nunca tinha sequer ensaiado com o
Victor nem com Nestor. Subimos no palco, daí avisei o público 'pessoal, nunca
ensaiamos e estamos aqui no palco, se rolar rateada não liguem'. Pra minha
surpresa quando começamos a tocar foi fudidaço e o pessoal pirou demais! Nestor
e Victor são músicos muito talentosos além de grandes pessoas. Só temos ótimas
lembranças dessa tour, temos que repetir isso aí. Talvez no Brasil? \m/
6 – Um debut album está sendo
composto. A quantas anda o processo para o disco, já tem selos interessados no
lançamento? Há também a preparação para mais uma tour europeia, desta vez ao
lado do Unaussprechlichen Kulten(CHI) e Zombiefication(MEX), o debut já estará
disponível até lá?
Duracell: Já estamos finalizando as composições e felizmente tem selos
confirmados pro lançamento, sim. Vai ser um play desgraçado, quem curtiu o EP
Sacrifice vai pirar no Debut com certeza. Adianto
alguns títulos: Infernal Suffering, Obsessed by Death, Chaos and Blasphemy,
Devouring Darkness, entre outros. Só veneno. Estamos planejando gravar e lançar
isso no ano que vem (2015). A tour com
Unaussprechlichen Kulten e Zombiefication rolou agora em setembro e foi
fudidona, muito show animal. Agora o Incarceration está mais sólido na cena
europeia, e participamos de uns festivais bem
bacanas como o Kill Town Deathfest e o Party San Open Air. Esse ano dividimos palco com Repulsion(!!), Dead Congregation,
Malevolent Creation, Grave, Suffocation, Napalm Death, Obituary, God Macabre,
Sonne Adam, Anatomia, Undergang, Nunslaughter, Kreator, Morbus Chron e muitas
outras bandas.
Kill Town Deathfest 2014 |
Party San 2014 |
7 – Além do Incarceration, você gerencia em parceria com Vladimir Sužnjević a Roadmaster Booking, uma
agência de turnês que já levou algumas bandas para a Europa, como a já citada
Escarnium, Headhunter D.C e Violator, entre outras. Sei que você já tem longa
experiência em turnês. Como foi pensada a Roadmaster? E, de forma simplificada,
como funciona a empresa?
Duracell: Antes da Roadmaster eu já tinha feito algumas turnês pelo Brasil com o
Mortificy (minha banda dos tempos de Manaus), além de ter acompanhado o
Violator em 2007 na parte estrangeira da Tour Sulamericana deles (Venezuela,
Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Argentina, Chile, Paraguai). Em 2010 os
Violas me convidaram pra acompanhá-los na tour europeia, e coincidentemente o
motorista da tour era o Vlad. Quando voltei pro Brasil após a tour, várias
bandas entraram em contato comigo perguntando sobre como fazer tour na Europa,
e pedindo meu help pra fazer isso acontecer. Uma dessas bandas foi o Escarnium.
Juntamente com os planos de me mudar pra Europa, vi nisso uma oportunidade de
trabalhar com algo que curto muito e que já tinha muita experiência por conta
das turnês anteriores. Então criei a Roadmaster pra oficializar minha prestação
de serviços nessa área. Agora já nos desenvolvemos bastante, trouxemos pra
Europa inúmeras bandas brasileiras (como você bem citou), e estamos trabalhando
com várias bandas gringas também como Centurian, Skeletal Remains, Evil
Invaders, e acabamos de fechar com o Hirax pra uma tour em 2015. Antes nós
organizávamos tours de bandas que queriam divulgar seu trabalho na Europa, mas
agora estamos fazendo melhor: estamos abrindo a possibilidade pra essas bandas
tocarem pela Europa juntamente com grandes artistas (como o Hirax e Centurian,
por exemplo). Organizar turnês na Europa é um projeto complexo, audacioso e que
demanda muita responsabilidade. Mas basicamente nós fazemos o melhor possível
pra oferecer uma solução completa: agendamento de shows, divulgação, aluguel de
van, aluguel de equipamentos de som, etc. Bandas interessadas em excursionar na
Europa juntamente com bandas renomadas na cena, fiquem à vontade pra fazer
contato, são muito bem vindas. \m/
8 – Muitos podem pensar que uma turnê na Europa é fácil, mas há aí uma
série de fatores, shows que podem ser cancelados, desgaste de membros, etc. O
que uma banda precisa hoje para fazer uma turnê? Há grandes dificuldades?
Duracell: se for muito bem organizada é um pouco mais fácil sim, mas mesmo assim
é bem cansativa. Tem que querer muito e ser muito apaixonado pra não ser
vencido pelo cansaço, desgastes, etc. Hoje está bem mais fácil que antes pra
fazer uma turnê na Europa. Há muito mais informação, comunicação, além de
profissionais especializados em trabalhar com isso e oferecer esse serviço pra
bandas, como eu. A maior dificuldade, ainda acredito que sejam os custos
(principalmente com logística: passagens de avião pra Europa, aluguel de Van,
combustível, taxas rodoviárias, etc), e o excesso de shows grandes que rolam
aqui (que acabam diminuindo o público de bandas desconhecidas na Europa). Só
pra dar um pequeno exemplo, terça-feira(11/11) em Hamburgo rolou
Whipstriker/Apocalyptic Raids/Farscape, quarta rolou Overkill, ontem rolou
Saxon e hoje a noite vai rolar Convulse/Undergang. Isso pra citar alguns dos
shows. Paralelo à isso rolaram vários outros shows de 'rock' em outros clubes
da cidade. Então se chega uma banda 'desconhecida' na Europa, por mais
talentosa que a banda seja, infelizmente muitas vezes não vai tocar pra grandes
públicos, pois se tem com muita frequência shows grandes aqui. Não tem como ter
muito público em todos os shows. Por conta disso estamos trabalhando com bandas
cada vez maiores e oferecendo a oportunidade pra bandas de qualquer país
viajarem como bandas de suporte. Assim, através da Roadmaster Booking uma banda
que ainda não é conhecida aqui poderá, por exemplo, fazer uma turnê juntamente
com o Hirax, tendo praticamente os mesmo custos que teria fazendo sozinha.
Acreditamos que dessa forma os grupos podem desenvolver mais rapidamente suas
carreiras na cena Europeia e possivelmente se tornarem bandas muito bem
sucedidas por aqui, pois principalmente as bandas brasileiras tem um talento
gigante que é muito apreciado na Europa.
9 – Você está a alguns anos na Alemanha e vez por outra excursionando,
seja para tocar ou agenciando as bandas. Poderia traçar um breve paralelo entre
a cena no Brasil e no “velho continente”? Como se dá a estrutura de
shows(casas, produtores, público)? As bandas conseguem fazer algum dinheiro
como as apresentações? Dá pra viver de Metal por aí?
Duracell: A diferença é gigante, por vários fatores. Os clubes aqui geralmente
organizam shows quase todos os dias, ou pelo menos recebem artistas
internacionais todas as semanas. Então eles tem um know-how muito maior do que aquelas
casas que organizam um show a cada dois meses. No Brasil ainda rola muito de se
organizar show em espaços que não tem rotina de receber artistas. Então
geralmente não tem equipamentos de qualidade, não tem camarim pras bandas,
profissionais de som. Aqui isso é diferente, muitos clubes tem até alojamentos
onde as bandas podem dormir depois do show pra seguir suas viagens. Há uma
circuito de turnês construído há décadas e muito sólido, então os clubes são
bem adaptados à isso e quem ganha são as bandas. Outro fator: logística. As
distâncias entre as cidades e países em uma turnê são bem menores: daqui de
Hamburgo, em 5 horas de carro se chega na Holanda, Bélgica, Dinamarca, França,
República Tcheca ou Polônia. Ou seja,
muitas vezes é possível organizar uma turnê de 15 shows, em que cada show fica
a em média 3 a 5 horas de distância um do outro. Sobre grana, uma diferença
grande está na venda de merchandising. Além do cachê dos shows, aqui se vende
muito merchandising, o europeu tem mais poder aquisitivo e quando curte a banda
ele compra mesmo as camisas, cd's, etc. Apesar disso, eu conheço muito poucos
artistas que vivem do metal como músicos aqui. É perfeitamente possível cobrir
os custos de uma banda com a venda de merch e cachês, e talvez sustentar algum
membro, mas pra sustentar 4, 5 membros a banda precisa ter um nome muito sólido
na Europa e tocar muito. Fazer turnês o tempo inteiro.
10 – Fica o agradecimento pelo tempo concedido e também o espaço para
qualquer consideração. Continuem fazendo Death Metal cru e ligeiro! Avante!
Duracell: Netão, valeu você por dedicar teu tempo e suas energias pra fazer um
material como este. Atitude admirável. Torço muito pra que você receba muito
apoio, e que o reconhecimento por esse trabalho sirva de combustível pra você
seguir produzindo. E que isso inspire mais bangers a fazer o mesmo, precisamos
de mais iniciativas assim! Te prometo que por aqui continuaremos fazendo Death
Metal cru e ligeiro sim, cada vez mais ligeiro (risos)! Pros leitores que
acompanham o Incarceration e querem ver a gente em ação no Brasil, aviso que
uma tour por aí está definitivamente nos nossos planos. Fiquem à vontade pra
fazer contato com a gente, vocês são extremamente bem vindos. Espero em breve estar
levando nossa devastação Death Metal pro Brasil pra gente bater cabeça juntos
aí! Death Metal rules, uhhhh!!!!!!!!!
Contatos:
Faceook: www.facebook.com/incarceration
Site: www.incarcerationdeath.com
Email: incarcerationdeath@hotmail.com
Site: www.incarcerationdeath.com
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666!
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