domingo, 30 de novembro de 2014

Entrevista Heavy Metal On Line | Apoiando o Metal Nacional

Recentemente, resenhei aqui o documentário O Homem e a Obra, produzido pelo programa Heavy Metal On Line. Entrevistei o realizador Clinger Teixeira, que além do programa que vai ao ar no Youtube, também é envolvido com fanzines e programa de rádio. Acompanhem a entrevista abaixo, falamos sobre o mercado underground no Brasil, apoio à bandas, o mainstream no país, dentre outros assuntos.


Por Jaime ‘Netão’ Guimarães

1. Saudações, Clinger. Primeiramente, obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Por favor, nos conte como surgiu seu interesse pelo Heavy Metal e como é sua relação com o underground.

Clinger: Meu interesse pelo Heavy Metal surgiu ao mesmo tempo do interesse pelo movimento underground, praticamente, pois assim que conheci bandas como Iron Maiden, também conheci Morbid Angel. Neste mesmo período comecei a andar com algumas pessoas que organizavam eventos aqui em minha cidade e meses depois, no ano de 1994, estava à frente do Segundo Show Thrash In Caratinga, trazendo o In Memorian (antiga banda de Black Metal do Leste de Minas) pra tocar em minha cidade. A partir daí não parei mais de executar ações em prol da cena nacional.

2. Você está à frente do Heavy Metal On line, que já está em sua 50ª edição. Em que contexto surgiu a ideia de criar o programa? Como você desenvolveu o formato? Houve muitas mudanças do primeiro programa para o atual? E qual as metas e o seu público?

Clinger:  Como sempre digo, a ideia surgiu da própria necessidade de apoiar a cena de uma forma que enquadrasse nos moldes dos meios de comunicação de hoje. Pois anteriormente editava um fanzine chamado Skeletons of Society e quando parei comecei a pensar no que fazer. Até que fiz um estágio numa TV aqui da minha cidade, apresentando um programa sobre meio ambiente, e peguei as manhas. Depois que fiz o primeiro fui desenvolvendo um formato mais direcionado ao underground, já que não tenho tesão pra ficar falando de mainstream, daí a coisa foi tomando forma e fui mudando e melhorando as edições.

HMOL entrevistando a banda Coldblood


3.  Como é a estrutura do HMOL e quem são seus parceiros na produção? Com qual frequência você grava os programas? É você quem edita o material? Vi que você utiliza sua casa como estúdio, o que pode facilitar. Como é o processo para produzir um programa?

Clinger: A estrutura do programa é bem limitada, tenho apenas uma câmera, poucas luzes, gravo na minha casa mesmo, eu mesmo edito e faço tudo na medida do possível, mas nunca deixo de fazer. Vejo muitas pessoas que tem inúmeras ideias na cabeça e não conseguem fazer nada. Eu sou bem diferente, talvez cometa alguns erros básicos por ser um cara muito acelerado e focado no objetivo principal. Possuo vários parceiros nos dias de hoje e estou lançando os programas mensalmente, todo início de mês e também lançando documentários semestralmente.

4. Além do HMOL, que é um programa audiovisual veiculado no Youtube e em redes sociais, você também é envolvido com um programa de rádio e fanzines. Quais as peculiaridades dessas iniciativas e como elas se inserem no underground atualmente?

Clinger: Então, tenho este programa de rádio na Metal Militia, que formatei juntamente com o Ed Rodrigues e Mônica, para apoiar as bandas que me enviam materiais, pois dou maior valor para as pessoas que tem o trabalho de postar no correio um CD pra mim. Valorizo isto demais e achei que divulgar o CD somente no programa webtv seria pouco demais pra estas pessoas que confiam em mim, enviando seus materiais. Acho que tudo é válido para difundir a música underground e aproveito o áudio das entrevistas para rolar na rádio também.

5. Há por parte de algumas pessoas uma espécie de “culto” ao zine impresso, que seria mais “underground” ou “verdadeiro”. Como você vê essa questão? Como você vê a importância de blogs, webzines e sites voltados para o metal?

Gosto muito do "culto ao zines impressos" hoje mesmo estava lendo aqui em casa o Fly Kintal do Sergio Figueiredo de Manaus, com o Pentacrostic na capa, gosto muito de ler os que chegam aqui pra mim e de vez em quando ler os antigos. Acho tudo fantástico e válido. Cada pessoa absorve melhor um tipo de material e apoio qualquer formato. Mas, por mais que eu tenha um programa webtv, acho o zine impresso uma obra de arte. 




6. Em relação à “grande” mídia especializada, Whiplash, Roadie Crew, Rock Brigade, etc. Como você encara a atuação desses meios de comunicação e sua relação com o mainstream e o underground? Alguns dizem que existe dois tipos de cena, uma que seria criada por estes veículos citados, e outra mais livre, que seria o underground. O que pensa acerca do assunto?

Clinger: Boa pergunta, mas já quero te passar minha visão sobre cena mainstream no Brasil. Pra mim ela não existe. METAL no Brasil é todo underground, por mais que os canais que você citou tenham mais acessos e visibilidade, sei que não é fácil sobreviver neste mercado. Sempre digo que no Brasil hoje não tem nem banda de Metal que podemos chamar de mainstream, que arrasta 5 mil pessoas pra uma casa de show ou estádio. O mercado está muito pequeno, a molecada hoje não tem mais aquele tesão de sair de casa, então a coisa se renova muito lentamente e o mercado não cresce. Não que a cena esteja ruim, muita coisa melhorou, mas quem seria mainstream no Brasil hoje? Max Cavalera tocou pra 900 pessoas em BH depois de ficar 14 anos sem tocar lá, então é muito pouca gente pra um cara que é considerado um ícone do nosso cenário.


7. Como é relacionamento do HMOL com a cadeia produtiva do underground? Vejo que você tem articulação com diversos selos, que te enviam material, e também apoia e cobre uma série de eventos e bandas.

Clinger: Sim, tenho muitos contatos, mas tudo voltado ao underground. As pessoas, os selos, as bandas do underground confiam mais no meu trabalho, enviam camisas, fazem questão de me convidar e credenciar pra seus eventos, mas a dita cena mainstream não dá muita bola, muitos me veem e fazem de conta que não me conhecem, talvez por ser um cara que more no interior de Minas, que não tenha uma produtora por traz, etc. Mas pra mim não faz diferença, minha meta sempre foi dar espaço pra quem quer espaço, não sou de ficar dando uma de tiete pra entrevistar banda, nem fico pedindo material, faço meu trabalho e dou mais atenção pra quem me dá atenção e confiança, só isso.

8. Além dos programas convencionais, o HMOL também realiza documentários especiais, como aconteceu com a cobertura do Refúgio Macabro. Fale sobre os projetos do programa. É verdade que está sendo planejado um documentário sobre as atividades da Cogumelo Records?

Clinger: Sim cara, faço alguns documentários, na verdade quando vou entrevistar alguma banda, seleciono uma pergunta pra colocar no documentário, que envolve sempre muitos temas que tenho em minha mente a muitos anos, como foi o caso do meu último que fala sobre a evolução musical de alguns estilos dentro do metal. Estamos fazendo um documentário sobre a Cogumelo Records de BH, mas ele deu uma parada devido algumas entrevistas ainda não terem sido feitas. Vai voltar a se realizar em 2015 para ser lançado no meio do ano. Ficará bem legal este também, pois terá figuras lendárias que se envolveram nos lançamentos realizados pela gravadora que marcaram época.




9. Você tem algum retorno financeiro com o programa, ou acha que é possível ter?

Clinger: Não tenho retorno financeiro e nem quero ter. Não quero entrar neste mercado pra ganhar dinheiro, sou claro com meus objetivos. Vejo muitas pessoas que montam uma puta estrutura com produtora e vão pro Youtube fazer um programa de metal, pra depois tentar um patrocínio ou se encaixar numa TV maior, e no final se frustram, porque ninguém contrata, nem patrocina. Já vi isto várias vezes. Tenho minha empresa aqui no interior de Minas, estou bem com ela a mais de 10 anos e não vou querer envolver nada de grana com o Heavy Metal On Line, porque sei que ninguém vai querer patrocinar um programa que tem o objetivo de entrevistar bandas do underground. Quero fazer tudo do meu jeito, sem pressão de ninguém, sem influência de grana, pra não mudar os objetivos.

10. Mais uma vez, valeu pelo tempo cedido, Clinger. Fica o espaço para quaisquer  mensagens. Parabéns pela iniciativa, mantenha-se forte!

Clinger: Valeu demais por ceder o espaço, adoro responder entrevistas, quem estiver lendo saiba que continuarei firme com meus objetivos.  Todos podem ver que mudei as edições do programa, mas nunca perdi o foco, nem mesmo a periodicidade em lançar. Podem contar sempre com o Heavy Metal On Line no que for preciso. Quem quiser conferir os programas anteriores, acesse em 


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