domingo, 9 de novembro de 2014

Opinião | O conformismo no metal e a infiltração do cristianismo






Por Thiago “Batatão” Macedo

Estava a navegar em alguns grupos do Facebook quando me deparo com duas notícias: Uma da vinda de uma banda de “White Metal” por terras nordestinas; e outra de uma banda de Natal (RN) ter cancelado sua apresentação em um renomado festival da capital do Rio Grande do Norte pelo motivo de uma outra banda de temática cri$tã tocar no mesmo evento. Esse artigo não visa exaltar a atitude da banda potiguar ou as críticas contra a tal banda de “white” em turnê, mas sim indagar a atitude de muitos “bangers” (o que me assustou bastante)  tanto criticando a banda natalense pela atitude quanto sendo totalmente indiferente, e as vezes conivente, com a banda religiosa.

O Metal é originalmente um movimento de vanguarda, contra-cultural e inconformista. Surgiu das entranhas de uma sociedade capitalista e doentia e carregava sobre si o signo de tudo que a sociedade repugna. Era contra tudo o que regia a vida pregada como social: Moral, disciplina, puritanismo, igreja entre outras coisas. Não leia aqui que o Metal era contra a fé cri$tã, seria absurdo afirmar isso quando os ditos criadores do estilo são cristãos assumidos. O Metal era contra a igreja e sua influência na sociedade. O antagonismo a fé cri$tã veio com a onda oitentista do estilo, com bandas como Mercyful fate, Venom, Bathory, Hellhammer, entre outros. Enfim, o Metal era contra toda a forma de autoridade, seja ela de cunho político ou religioso.

O cri$tianismo é uma religião historicamente virulenta. Aqui falo virulenta não de uma forma meramente pejorativa, mas literal, pois onde essa religião chegou, destruiu todos os traços das culturas que antes ali predominavam.  Isso vem acontecendo desde Constantino e foi se espalhando pelo mundo até os dias atuais. Durante esse tempo, o cri$tianismo se dividiu em duas grandes ramificações: católica e protestante. A católica é a maior e a principal, foi a religião criada por Constantino e a que “conquistou” o Novo Mundo, porém depois da secularização ela meio que estagnou. A protestante criada por Lutero é a religião que enfrentou a igreja católica e se separou da mesma. No Brasil a igreja protestante vem crescendo de uma forma absurda devido à sua “teologia da prosperidade”. Está invadindo as esferas políticas e culturais e por mais que negue, ela quer sim quebrar com a secularização e unir novamente igreja e Estado. A igreja protestante sempre coloca seu dedo em tudo que puder e é aí que vem o surgimento do dito “White Metal”.

O que antes era um inimigo declarado agora é uma ferramenta de arrebatamento para a religião. Igrejas e pastores (nem todas, vale salientar) não só estimulam como cedem espaço para reuniões e ensaios de bandas desse “estilo” para tentar ao máximo levar mais jovens para suas congregações. É uma versão do que a igreja católica fazia no medievo, infiltrar-se, influenciar e apoderar-se.

Eis aqui a minha indagação e indignação: Por que em um movimento naturalmente anti-religião, contra-cultural e marginal aceita com tanta indiferença uma cultura alheia da sua, que tem um histórico etnocida, que um dia combateu?

Certa parcela de “fãs de Metal” vem com o passar dos anos se tornando mais conformistas e veem com indiferença o que acontece ao seu redor. Vemos isso em bandas, revistas e ouvintes. Assustam-me comentários do tipo “O Metal ta segregado, tem que ter união independente de vertente, é tudo metal” ou “Vocês cancelaram a apresentação por causa de uma banda cri$tã? Perderam um fã”, e aqueles que são inconformados com a infiltração dessa religião em nosso meio são alvo de chacota. Assusta-me ver “fãs” ostentarem cruzes invertidas em seus perfis no facebook e se sentirem indiferentes com a situação. Os papéis se inverteram. O Metal que antes era opositor agora quer ser aceito na sociedade, mesmo que para isso aceite uma cultura alheia a sua que antes era contra. Assusta-me que tais pessoas tachem como retrógradas as idéias que sempre nortearam uma ideologia que é sim o pilar do estilo e não apenas a música. Assusta-me o rumo “direitista” que o Metal se apoderou nos últimos anos (tema para um próximo artigo). Assusta-me o rumo do Metal daqui pra frente.   


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