Por Hugo Magalhães*
No metal, o fato de
uma banda adquirir mais notoriedade do que outras nos grandes meios de massa, deve-se
mais ao acaso do que à quaisquer modelos causais que sejam capazes de predizer
a possibilidade de seu estrelato. Em outros termos, se na vida real você é um
bom profissional, você dificilmente vai ficar sem emprego. Todavia, por razões
sócio-históricas, mesmo se você for um bom músico, dificilmente vai viver de
metal (excluam-se casos de produtores e donos de estúdio que gravam metal, pois
estes não estão vivendo como músicos, e muito menos como produtores de metal,
pois ao menos uma parte, grande ou pequena, do dinheiro no fim do mês vem de
trabalhos com bandas que não são de metal). Não é difícil encontrar evidências
que consubstanciem isso, basta olhar ao redor e buscar por regularidades nos
ciclos de surgimento e renovação das bandas que vivem de metal. Essa
regularidade é casual.
Não é novidade
dizer que o empenho em busca da sepultarização (termo cunhado por Leon Manssur
e amigos) do metal vem de quem quer "profissionalizar" o meio, com o
intuito de torná-lo não somente um estilo de música estruturalmente mais sério,
como também um estilo midiaticamente mais amplo, bem aceito socialmente e
consequentemente mais rentável. Isto não se aplica aos produtores e músicos que
focam em viabilizar estruturas de qualidade para a realização de shows,
lançamentos, publicações, entre outros. Aplica-se aos produtores e músicos que
tratam esses aspectos como secundários à manutenção do cenário, que tratam sim,
a manutenção de seu status social e de sua rentabilidade financeira com o
cenário como aspecto primordial de suas ações, dentro do cenário. Não obstante,
talvez por isso os entusiastas desse movimento sejam em sua maioria membros de
bandas que buscam seu lugar ao sol por meio do sonho de viver financeiramente
da banda, produtores que querem o mesmo por via da realização de eventos e fãs
ingênuos de metal que valorizam mais a forma do que o conteúdo dos grupos que
ouve e dos eventos que frequenta.
O termo
“sepultarização” faz uma óbvia menção a atitude de busca pelo estrelato no
metal, englobando indiretamente demais ações que se relacionem em maior ou
menor grau com uma relação de troca financeira exacerbada entre
banda/produção/público. A bem da verdade, esse projeto pró-profissionalismo e
pró-divulgação do metal tem levado menos
à consolidação de seus objetivos sócio-financeiros do que à reprodução
impensada, dentro do meio, de crenças que beiram um usufruto ingênuo de
técnicas de marketing que são em sua essência profundamente excludentes.
De um
ponto de vista sócio-histórico, podemos inferir que esse projeto é em si mesmo
anacrônico, por aderir a crenças que são insustentáveis quando comparadas à
objetividade dos fatos históricos que o precedeu. A história do metal está aí,
fartamente documentada em diversos meios da internet, para quem quiser procurar
de verdade (favor buscar fontes confiávei$). Ela nos ensina que metal não foi o
som que fez a cabeça do adolescente das últimas 4 décadas.
Por exemplo, no Brasil, a exposição do Sepultura, Angra e Krisiun nos
meios de massa não fez com que fãs de Cazuza, Nirvana, Pitty ou NX Zero se
tornassem headbangers. Isso diz da baixa aceitabilidade social do metal
enquanto estilo musical em nossa sociedade. Poderíamos pensar em uma série de
outros exemplos. Em geral, isso deve ocorrer porque as pessoas não têm
interesse em ouvir uma música barulhenta, que fala sobre morte, guerra, anti-cristianismo,
satanismo, etc; temas tão caros à história evolutiva de nossas crenças morais.
Não vale dizer "você está desconsiderando a mente oriental". Não
procede. Troque o cristianismo por outro sistema de crenças espirituais (e.g.
hinduísmo) e estaremos lidando com a mesma estrutura do processo. Isso explica porque
em geral não se pode viver de metal. Por outro lado, a história também nos
ensina que a relação “profissionalismo x seriedade” pode ser inversamente
proporcional, quando observamos que não é necessário representar um
“profissional” para ser profissional no meio, produzindo conteúdo e eventos de
modo competente e qualitativo. Isso explica porque em geral, a replicação de
princípios do marketing contemporâneo no metal é um ato improdutivo,
anti-funcional e mesmo irreal, dada as condições inerentes à produção de música
pesada, na qual o metal está circunscrito.
Por isso, sejamos mais críticos. Pau no cu no discurso profissionalista
de araque de quem paga para abrir show, para sair em revista, para lançar
disco. De quem não conquista um lançamento ou espaço em um show/festival com
seu som, mas com dinheiro. Do produtor que oferece condições gritantes, e que
só pensa no que vai ganhar quando o show terminar. Finquemos os dois pés no
chão, olhemos para a história em nossa
retaguarda! A racionalidade agradece!
* Texto escrito pelo brother Hugo Magalhães (Carrasco, Beast Conjurator). Se tiver a fim de expor opinião aqui no Under The Ground, fique à vontade. Contate-nos!
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