Recentemente, resenhei aqui o documentário O Homem e a Obra, produzido pelo programa Heavy Metal On Line. Entrevistei o realizador Clinger Teixeira, que além do programa que vai ao ar no Youtube, também é envolvido com fanzines e programa de rádio. Acompanhem a entrevista abaixo, falamos sobre o mercado underground no Brasil, apoio à bandas, o mainstream no país, dentre outros assuntos.
Por
Jaime ‘Netão’ Guimarães
1. Saudações, Clinger. Primeiramente, obrigado
pelo tempo cedido ao Under The Ground. Por favor, nos conte como surgiu seu
interesse pelo Heavy Metal e como é sua relação com o underground.
Clinger: Meu interesse pelo
Heavy Metal surgiu ao mesmo tempo do interesse pelo movimento underground,
praticamente, pois assim que conheci bandas como Iron Maiden, também conheci
Morbid Angel. Neste mesmo período comecei a andar com algumas pessoas que
organizavam eventos aqui em minha cidade e meses depois, no ano de 1994, estava
à frente do Segundo Show Thrash In Caratinga, trazendo o In Memorian (antiga
banda de Black Metal do Leste de Minas) pra tocar em minha cidade. A partir daí
não parei mais de executar ações em prol da cena nacional.
2. Você está à frente do Heavy Metal On line,
que já está em sua 50ª edição. Em que contexto surgiu a ideia de criar o
programa? Como você desenvolveu o formato? Houve muitas mudanças do primeiro
programa para o atual? E qual as metas e o seu público?
Clinger: Como sempre digo, a ideia surgiu da própria
necessidade de apoiar a cena de uma forma que enquadrasse nos moldes dos meios
de comunicação de hoje. Pois anteriormente editava um fanzine chamado Skeletons
of Society e quando parei comecei a pensar no que fazer. Até que fiz um estágio
numa TV aqui da minha cidade, apresentando um programa sobre meio ambiente, e
peguei as manhas. Depois que fiz o primeiro fui desenvolvendo um formato mais
direcionado ao underground, já que não tenho tesão pra ficar falando de
mainstream, daí a coisa foi tomando forma e fui mudando e melhorando as
edições.
HMOL entrevistando a banda Coldblood |
3. Como
é a estrutura do HMOL e quem são seus parceiros na produção? Com qual
frequência você grava os programas? É você quem edita o material? Vi que você
utiliza sua casa como estúdio, o que pode facilitar. Como é o processo para produzir
um programa?
Clinger: A estrutura do
programa é bem limitada, tenho apenas uma câmera, poucas luzes, gravo na minha
casa mesmo, eu mesmo edito e faço tudo na medida do possível, mas nunca deixo
de fazer. Vejo muitas pessoas que tem inúmeras ideias na cabeça e não conseguem
fazer nada. Eu sou bem diferente, talvez cometa alguns erros básicos por ser um
cara muito acelerado e focado no objetivo principal. Possuo vários parceiros
nos dias de hoje e estou lançando os programas mensalmente, todo início de mês
e também lançando documentários semestralmente.
4. Além do HMOL, que é um programa audiovisual
veiculado no Youtube e em redes sociais, você também é envolvido com um
programa de rádio e fanzines. Quais as peculiaridades dessas iniciativas e como
elas se inserem no underground atualmente?
Clinger: Então, tenho este
programa de rádio na Metal Militia, que formatei juntamente com o Ed Rodrigues
e Mônica, para apoiar as bandas que me enviam materiais, pois dou maior valor
para as pessoas que tem o trabalho de postar no correio um CD pra mim. Valorizo
isto demais e achei que divulgar o CD somente no programa webtv seria pouco
demais pra estas pessoas que confiam em mim, enviando seus materiais. Acho que
tudo é válido para difundir a música underground e aproveito o áudio das
entrevistas para rolar na rádio também.
5. Há por parte de algumas pessoas uma espécie
de “culto” ao zine impresso, que seria mais “underground” ou “verdadeiro”. Como
você vê essa questão? Como você vê a importância de blogs, webzines e sites
voltados para o metal?
Gosto muito do "culto ao zines
impressos" hoje mesmo estava lendo aqui em casa o Fly Kintal do Sergio
Figueiredo de Manaus, com o Pentacrostic na capa, gosto muito de ler os que
chegam aqui pra mim e de vez em quando ler os antigos. Acho tudo fantástico e
válido. Cada pessoa absorve melhor um tipo de material e apoio qualquer
formato. Mas, por mais que eu tenha um programa webtv, acho o zine impresso uma
obra de arte.
6. Em relação à “grande” mídia especializada,
Whiplash, Roadie Crew, Rock Brigade, etc. Como você encara a atuação desses
meios de comunicação e sua relação com o mainstream e o underground? Alguns
dizem que existe dois tipos de cena, uma que seria criada por estes veículos
citados, e outra mais livre, que seria o underground. O que pensa acerca do
assunto?
Clinger: Boa pergunta, mas já
quero te passar minha visão sobre cena mainstream no Brasil. Pra mim ela não
existe. METAL no Brasil é todo underground, por mais que os canais que você
citou tenham mais acessos e visibilidade, sei que não é fácil sobreviver neste
mercado. Sempre digo que no Brasil hoje não tem nem banda de Metal que podemos
chamar de mainstream, que arrasta 5 mil pessoas pra uma casa de show ou
estádio. O mercado está muito pequeno, a molecada hoje não tem mais aquele
tesão de sair de casa, então a coisa se renova muito lentamente e o mercado não
cresce. Não que a cena esteja ruim, muita coisa melhorou, mas quem seria
mainstream no Brasil hoje? Max Cavalera tocou pra 900 pessoas em BH depois de
ficar 14 anos sem tocar lá, então é muito pouca gente pra um cara que é
considerado um ícone do nosso cenário.
7. Como é relacionamento do HMOL com a cadeia
produtiva do underground? Vejo que você tem articulação com diversos selos, que
te enviam material, e também apoia e cobre uma série de eventos e bandas.
Clinger: Sim, tenho muitos
contatos, mas tudo voltado ao underground. As pessoas, os selos, as bandas do
underground confiam mais no meu trabalho, enviam camisas, fazem questão de me
convidar e credenciar pra seus eventos, mas a dita cena mainstream não dá muita
bola, muitos me veem e fazem de conta que não me conhecem, talvez por ser um
cara que more no interior de Minas, que não tenha uma produtora por traz, etc.
Mas pra mim não faz diferença, minha meta sempre foi dar espaço pra quem quer
espaço, não sou de ficar dando uma de tiete pra entrevistar banda, nem fico
pedindo material, faço meu trabalho e dou mais atenção pra quem me dá atenção e
confiança, só isso.
8. Além dos programas convencionais, o HMOL
também realiza documentários especiais, como aconteceu com a cobertura do
Refúgio Macabro. Fale sobre os projetos do programa. É verdade que está sendo
planejado um documentário sobre as atividades da Cogumelo Records?
Clinger: Sim cara, faço
alguns documentários, na verdade quando vou entrevistar alguma banda, seleciono
uma pergunta pra colocar no documentário, que envolve sempre muitos temas que
tenho em minha mente a muitos anos, como foi o caso do meu último que fala
sobre a evolução musical de alguns estilos dentro do metal. Estamos fazendo um
documentário sobre a Cogumelo Records de BH, mas ele deu uma parada devido
algumas entrevistas ainda não terem sido feitas. Vai voltar a se realizar em
2015 para ser lançado no meio do ano. Ficará bem legal este também, pois terá
figuras lendárias que se envolveram nos lançamentos realizados pela gravadora
que marcaram época.
9. Você tem algum retorno financeiro com o
programa, ou acha que é possível ter?
Clinger: Não tenho retorno
financeiro e nem quero ter. Não quero entrar neste mercado pra ganhar dinheiro,
sou claro com meus objetivos. Vejo muitas pessoas que montam uma puta estrutura
com produtora e vão pro Youtube fazer um programa de metal, pra depois tentar
um patrocínio ou se encaixar numa TV maior, e no final se frustram, porque
ninguém contrata, nem patrocina. Já vi isto várias vezes. Tenho minha empresa
aqui no interior de Minas, estou bem com ela a mais de 10 anos e não vou querer
envolver nada de grana com o Heavy Metal On Line, porque sei que ninguém vai
querer patrocinar um programa que tem o objetivo de entrevistar bandas do
underground. Quero fazer tudo do meu jeito, sem pressão de ninguém, sem
influência de grana, pra não mudar os objetivos.
10. Mais uma vez, valeu pelo tempo cedido, Clinger.
Fica o espaço para quaisquer mensagens.
Parabéns pela iniciativa, mantenha-se forte!
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