domingo, 30 de novembro de 2014

Entrevista Heavy Metal On Line | Apoiando o Metal Nacional

Recentemente, resenhei aqui o documentário O Homem e a Obra, produzido pelo programa Heavy Metal On Line. Entrevistei o realizador Clinger Teixeira, que além do programa que vai ao ar no Youtube, também é envolvido com fanzines e programa de rádio. Acompanhem a entrevista abaixo, falamos sobre o mercado underground no Brasil, apoio à bandas, o mainstream no país, dentre outros assuntos.


Por Jaime ‘Netão’ Guimarães

1. Saudações, Clinger. Primeiramente, obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Por favor, nos conte como surgiu seu interesse pelo Heavy Metal e como é sua relação com o underground.

Clinger: Meu interesse pelo Heavy Metal surgiu ao mesmo tempo do interesse pelo movimento underground, praticamente, pois assim que conheci bandas como Iron Maiden, também conheci Morbid Angel. Neste mesmo período comecei a andar com algumas pessoas que organizavam eventos aqui em minha cidade e meses depois, no ano de 1994, estava à frente do Segundo Show Thrash In Caratinga, trazendo o In Memorian (antiga banda de Black Metal do Leste de Minas) pra tocar em minha cidade. A partir daí não parei mais de executar ações em prol da cena nacional.

2. Você está à frente do Heavy Metal On line, que já está em sua 50ª edição. Em que contexto surgiu a ideia de criar o programa? Como você desenvolveu o formato? Houve muitas mudanças do primeiro programa para o atual? E qual as metas e o seu público?

Clinger:  Como sempre digo, a ideia surgiu da própria necessidade de apoiar a cena de uma forma que enquadrasse nos moldes dos meios de comunicação de hoje. Pois anteriormente editava um fanzine chamado Skeletons of Society e quando parei comecei a pensar no que fazer. Até que fiz um estágio numa TV aqui da minha cidade, apresentando um programa sobre meio ambiente, e peguei as manhas. Depois que fiz o primeiro fui desenvolvendo um formato mais direcionado ao underground, já que não tenho tesão pra ficar falando de mainstream, daí a coisa foi tomando forma e fui mudando e melhorando as edições.

HMOL entrevistando a banda Coldblood


3.  Como é a estrutura do HMOL e quem são seus parceiros na produção? Com qual frequência você grava os programas? É você quem edita o material? Vi que você utiliza sua casa como estúdio, o que pode facilitar. Como é o processo para produzir um programa?

Clinger: A estrutura do programa é bem limitada, tenho apenas uma câmera, poucas luzes, gravo na minha casa mesmo, eu mesmo edito e faço tudo na medida do possível, mas nunca deixo de fazer. Vejo muitas pessoas que tem inúmeras ideias na cabeça e não conseguem fazer nada. Eu sou bem diferente, talvez cometa alguns erros básicos por ser um cara muito acelerado e focado no objetivo principal. Possuo vários parceiros nos dias de hoje e estou lançando os programas mensalmente, todo início de mês e também lançando documentários semestralmente.

4. Além do HMOL, que é um programa audiovisual veiculado no Youtube e em redes sociais, você também é envolvido com um programa de rádio e fanzines. Quais as peculiaridades dessas iniciativas e como elas se inserem no underground atualmente?

Clinger: Então, tenho este programa de rádio na Metal Militia, que formatei juntamente com o Ed Rodrigues e Mônica, para apoiar as bandas que me enviam materiais, pois dou maior valor para as pessoas que tem o trabalho de postar no correio um CD pra mim. Valorizo isto demais e achei que divulgar o CD somente no programa webtv seria pouco demais pra estas pessoas que confiam em mim, enviando seus materiais. Acho que tudo é válido para difundir a música underground e aproveito o áudio das entrevistas para rolar na rádio também.

5. Há por parte de algumas pessoas uma espécie de “culto” ao zine impresso, que seria mais “underground” ou “verdadeiro”. Como você vê essa questão? Como você vê a importância de blogs, webzines e sites voltados para o metal?

Gosto muito do "culto ao zines impressos" hoje mesmo estava lendo aqui em casa o Fly Kintal do Sergio Figueiredo de Manaus, com o Pentacrostic na capa, gosto muito de ler os que chegam aqui pra mim e de vez em quando ler os antigos. Acho tudo fantástico e válido. Cada pessoa absorve melhor um tipo de material e apoio qualquer formato. Mas, por mais que eu tenha um programa webtv, acho o zine impresso uma obra de arte. 




6. Em relação à “grande” mídia especializada, Whiplash, Roadie Crew, Rock Brigade, etc. Como você encara a atuação desses meios de comunicação e sua relação com o mainstream e o underground? Alguns dizem que existe dois tipos de cena, uma que seria criada por estes veículos citados, e outra mais livre, que seria o underground. O que pensa acerca do assunto?

Clinger: Boa pergunta, mas já quero te passar minha visão sobre cena mainstream no Brasil. Pra mim ela não existe. METAL no Brasil é todo underground, por mais que os canais que você citou tenham mais acessos e visibilidade, sei que não é fácil sobreviver neste mercado. Sempre digo que no Brasil hoje não tem nem banda de Metal que podemos chamar de mainstream, que arrasta 5 mil pessoas pra uma casa de show ou estádio. O mercado está muito pequeno, a molecada hoje não tem mais aquele tesão de sair de casa, então a coisa se renova muito lentamente e o mercado não cresce. Não que a cena esteja ruim, muita coisa melhorou, mas quem seria mainstream no Brasil hoje? Max Cavalera tocou pra 900 pessoas em BH depois de ficar 14 anos sem tocar lá, então é muito pouca gente pra um cara que é considerado um ícone do nosso cenário.


7. Como é relacionamento do HMOL com a cadeia produtiva do underground? Vejo que você tem articulação com diversos selos, que te enviam material, e também apoia e cobre uma série de eventos e bandas.

Clinger: Sim, tenho muitos contatos, mas tudo voltado ao underground. As pessoas, os selos, as bandas do underground confiam mais no meu trabalho, enviam camisas, fazem questão de me convidar e credenciar pra seus eventos, mas a dita cena mainstream não dá muita bola, muitos me veem e fazem de conta que não me conhecem, talvez por ser um cara que more no interior de Minas, que não tenha uma produtora por traz, etc. Mas pra mim não faz diferença, minha meta sempre foi dar espaço pra quem quer espaço, não sou de ficar dando uma de tiete pra entrevistar banda, nem fico pedindo material, faço meu trabalho e dou mais atenção pra quem me dá atenção e confiança, só isso.

8. Além dos programas convencionais, o HMOL também realiza documentários especiais, como aconteceu com a cobertura do Refúgio Macabro. Fale sobre os projetos do programa. É verdade que está sendo planejado um documentário sobre as atividades da Cogumelo Records?

Clinger: Sim cara, faço alguns documentários, na verdade quando vou entrevistar alguma banda, seleciono uma pergunta pra colocar no documentário, que envolve sempre muitos temas que tenho em minha mente a muitos anos, como foi o caso do meu último que fala sobre a evolução musical de alguns estilos dentro do metal. Estamos fazendo um documentário sobre a Cogumelo Records de BH, mas ele deu uma parada devido algumas entrevistas ainda não terem sido feitas. Vai voltar a se realizar em 2015 para ser lançado no meio do ano. Ficará bem legal este também, pois terá figuras lendárias que se envolveram nos lançamentos realizados pela gravadora que marcaram época.




9. Você tem algum retorno financeiro com o programa, ou acha que é possível ter?

Clinger: Não tenho retorno financeiro e nem quero ter. Não quero entrar neste mercado pra ganhar dinheiro, sou claro com meus objetivos. Vejo muitas pessoas que montam uma puta estrutura com produtora e vão pro Youtube fazer um programa de metal, pra depois tentar um patrocínio ou se encaixar numa TV maior, e no final se frustram, porque ninguém contrata, nem patrocina. Já vi isto várias vezes. Tenho minha empresa aqui no interior de Minas, estou bem com ela a mais de 10 anos e não vou querer envolver nada de grana com o Heavy Metal On Line, porque sei que ninguém vai querer patrocinar um programa que tem o objetivo de entrevistar bandas do underground. Quero fazer tudo do meu jeito, sem pressão de ninguém, sem influência de grana, pra não mudar os objetivos.

10. Mais uma vez, valeu pelo tempo cedido, Clinger. Fica o espaço para quaisquer  mensagens. Parabéns pela iniciativa, mantenha-se forte!

Clinger: Valeu demais por ceder o espaço, adoro responder entrevistas, quem estiver lendo saiba que continuarei firme com meus objetivos.  Todos podem ver que mudei as edições do programa, mas nunca perdi o foco, nem mesmo a periodicidade em lançar. Podem contar sempre com o Heavy Metal On Line no que for preciso. Quem quiser conferir os programas anteriores, acesse em 


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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Moshpit | O código moral e os "bruce lees" da roda


Por Jaime "Netão" Guimarães

Segundo a Wikipédia (fonte de todos os meus conhecimentos) o mosh, ou moshpit, ou roda de pogo, ou apenas roda (ou apenas pogo), pode ser definido assim: “[...] forma de dança associada a gêneros musicais mais agressivos como o punk rock e o heavy metal. Nesta dança os participantes fazem movimentos bruscos como cotoveladas e joelhadas, pulam, correm, empurram e colidem entre si dentro de uma área circular delimitada. Embora o caráter violento da dança, não existe a real intenção de causar danos aos participantes.”

O fato é que esta excêntrica “dança”, surgida talvez com os movimentos punk/hardcore, tornou-se uma tradição de eventos de música pesada, assim como o stage dive (não confundir com mosh). Quem nunca se aventurou numa roda? (o duplo sentido não foi intencional). Pancadaria sonora frenética, um por um na bateria a todo gás, blast-beats vindos do inferno, d-beat puro sangue, amplificadores estourando seus ouvidos, muita birita, empurra-empurra e um calor infernal. Eu mesmo já perdi a conta de cotoveladas, chutes, socos, arranhões, puxões de cabelo, cabeçadas, mordidas, ameaças de morte e abraços de bêbado eu já recebi em alguns círculos infames deste gênero.

Claro, nem sempre – na verdade, na maioria das vezes – esses pequenos contratempos são voluntários (a não ser no caso das ameaças de morte). Em sua grande maioria, os participantes dessa brincadeira estão ali unicamente com intuito de se divertir, de extravasar.



Há um código moral implícito em meio a qualquer moshpit: Não pode entrar na malícia, dar soco na cabeça, dedos nos olhos e joelhada nas partes baixas; se “nego” cai no chão, não pode pisotear, tem que ajudar a levantar; não pode dar rasteira, nem cuspida; não pode entrar na roda com skate na mão (eu já presenciei isso); não pode tentar roubar a mochila do colega; não pode assediar, homens ou mulheres, pegar na bunda, dar dedada, etc...Quem for pego no flagra será cobrado.

No entanto, sempre tem um filho da puta pra querer atrapalhar tudo e machucar os meninos no mosh. É a figura do “bruce lee” da roda. Aquele cara que tá por ali gritando qualquer coisa, que já encheu a cara de “toddynho”, que está com a camisa do Pantera, Matanza ou The Trooper, do Iron Maiden, que tem índole de perversidade e alma de vagabundo de rua. Ele entra no pogo com os cotovelos em forma giratória e atacando feito um kamikaze. Quase sempre calçando uma bota de trilha, chega chutando as canelas alheias sem pena alguma, deixando a marca do sapato estampada. Ele é aquele chato que puxa a galera que tá fora do círculo para dentro e começa a empurrar todo mundo.



Quando o bruce lee da roda começa a agir, logo é notado. O pessoal já fica de olho. Alguns se retiram, outros esperam pra dar o troco e/ou intimá-lo. Claro, não é questão de “moleza”, todo mundo sabe que a roda é brincadeira de gente grande, e que quem entra está pondo picos de adrenalina e energia pra fora. Mas não vamos exagerar, né? Já vi gente colocando protetor bucal e tudo, se preparando pra foder a turma. (risos)


Resumindo, não seja o bruce lee da roda. Ostente essa bandeira, vamos fazer disso uma corrente. O bruce lee é aquele cara que entra pra igreja e queima os vinis. É o maluco que bebe a cerveja do cara que tá no palco tocando. Ele é o cara que mexe a boca pra dizer que sabe a letra da música, mas não sabe. Quando sua mãe diz que “no rock só tem ignorante e gente duvidosa” ela está falando do bruce lee.



Há algum tempo encontrei pelo youtube o curta-documentário Roderia (Death Metal), de 2004. De direção de um maluco chamado Léo Je$u$, o curta foi gravado durante um show do Napalm Death no Rio de Janeiro; e mostra como acontece uma roda. Durante o filme são apresentados os “rebatedores”, os caras mais “insanos” daquele moshpit. Os personagens falam da energia que é entrar em uma roda de pogo, alguns falam em “espancar os metaleiros”(risos), outros dizem que tudo não passa de um esporte. Entre as figuras estão eles, os bruce lees escrotizantes. Vale a pena assistir.


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E não seja a porra do bruce lee da roda, morô?!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Filmes | Os curtas de horror de Dennison Ramalho



Sempre fui muito fã de filmes de terror. Desde que me lembro por gente acompanho obras do gênero e viajo em histórias sobrenaturais, de morte, de assassinos, monstros, violência gratuita, extraterrestres, etc. Creio que o medo é, e sempre foi, um grande estimulante do imaginário humano. Você tem medo, mas quer ver até onde aquilo vai, o que acontece a seguir; e isso faz sua mente funcionar de forma muito interessante. Segundo William Sheakespeare, “O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado.”. E é exatamente isso que os filmes de terror nos dão: a expectativa, a ansiedade, a curiosidade, o medo.

Dito isto, falarei sobre as obras do cineasta gaúcho Denisson Ramalho, que nos últimos anos lançou os curtas de terror mais significativos que tive o prazer e assistir. Suas obras se destacam pela incorporação do gênero de horror a assuntos sociais, como a violência policial, o abandono e intolerância sexual; e à crítica ácida às religiões.  A seguir comentarei sobre três filmes do diretor: Amor só de Mãe, Ninjas e J is for Jesus.



Amor só de mãe (2002)





Conta a história de um pescador que vive em uma vila isolada e pobre e passa por um dilema, o de escolher entre sua genitora e seu amante. Filho(Everaldo Pontes), como é chamado por todo o filme, tem um relacionamento amoroso e carnal com Formosa(Débora Muniz). A mulher o pressiona a largar a mãe e ir embora do fim de mundo em que vivem. Com as negativas de Filho, o casal se desentende. Seria uma história comum, não fossem os macabros acontecimentos que se seguem...

Após a briga, o personagem de Everaldo vai à casa de Formosa e a flagra transando com um homem enquanto outro se masturba assistindo a cena. Armado de facão o protagonista coloca os dois sujeitos para correr e em um ato de desespero pede que a amada o mate, pois prefere morrer a vê-la partir e deixá-lo só. Nesse momento a mulher é possuída por uma entidade maligna, que no filme se denomina “gira” (de Pombagira). O espírito dá um ultimato ao homem e diz que se ele quer ter sua “filha”, deverá trazer o coração da mãe até o amanhecer.



A atmosfera criada por Ramalho é incrível, tudo é soturno e denso, mesmo à luz do dia. O clima de isolamento é constante e asfixia o espectador. A caracterização de Formosa, quando possuída, é realmente de dar medo, e muito original, foge dos padrões de filmes de terror, talvez por ser algo da nossa cultura.

Amor só de mãe é o segundo filme do diretor, e é  sem dúvidas uma referência no que diz respeito ao gênero terror no Brasil. Dennison Ramalho acerta ao unir elementos mais próximos de nós para criar um universo assustador para as telas.





A título de curiosidade e suposição, o roteiro é assinado por Ramalho e Pai Alex, representante de uma tenda de umbanda, à época localizada dentro do presídio do Carandiru.  Por certo Dennison tomou algumas referências para escrever o filme enquanto filmava o excelente documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro, do qual foi assistente de direção. O longa foi rodado no começo da década passa e mostra o dia-a-dia de presos naquela, já extinta, casa de detenção. 




Ninjas (2010)





O filme conta a história de Jailson(Flávio Bauraqui), um inexperiente policial, que em uma incursão numa favela, assustado, acaba matando um garoto inocente. Até aí, o curta parece ser mais um filme sobre violência urbana. No entanto, após o ocorrido o protagonista passa a ser atormentado, não só pela culpa do seu ato, mas também pelo fantasma do jovem.

As cenas em que o espírito assombra a casa de Jailson são dignas de congelar a espinha de qualquer um, remetem a filmes de terror japoneses, com clima sombrio e efeitos sonoros que contribuem para o susto de quem assiste. Interessante é que o personagem não sofre solitariamente, não é o único a ver o garoto, sua família também é afetada.

Para ajudar Jailson a enfrentar o tormento por que passa seus amigos de corporação são chamados. O grupo de policiais vai até o protagonista e diz que vai lvrá-lo da agonia, então o levam para um lugar ermo, onde planejam uma ação. A assombração persegue o protagonista em qualquer lugar. Seus companheiros sabem, mas não tem medo.



É aí que conhecemos os Ninjas, do título do filme. São uma espécie de milícia que age paralelamente à Polícia. O chefe do grupo é o Capitão Vargas que diz para Jailson que naquela noite ele se transformaria em um membro da equipe.

A partir daí, segue-se a sequência mais perturbadora do curta. Jailson e seus amigos adentram um típico boteco de periferia, onde se encontram algumas pessoas bebendo, lá mandam todos saírem e prendem um casal. Então começa uma sessão de horrores, onde as vítimas são barbaramente humilhadas e torturadas (Quando digo barbaramente, não estou sendo exagerado, tive a oportunidade de assistir em um festival e presenciei várias pessoas saindo da sala por conta da brutalidade das cenas). Os Ninjas seriam pessoas normais, não fosse sua aparência monstruosa por debaixo de máscaras que usam.





Durante todo o curta o personagem de Bauraqui é visto como um temente a deus, e está sempre assustado. É neste cenário caótico que ele será confrontado com todos os seus medos e crenças. O desfecho do filme é sensacional. 



J is for Jesus (2014)




Este é o mais recente trabalho de Ramalho, e fez parte da antologia The ABCs of Death 2. Nesse filme, 26 diretores do mundo todo são convidados a participar com um curta de metragem de até 5 minutos. Cada filme representa uma letra do alfabeto e tem relação com a morte. Dennison Ramalho pegou a letra J e dirigiu J is for Jesus, um dos melhores filmes presentes na coletânea.

Nesta história, um homem vive um romance homossexual quando é “raptado” à mando de seu próprio pai. Os raptores são pastores evangélicos, contratados para ‘tirar o demônio’ do corpo do jovem. A vítima é presa a uma cadeira e torturada pelos homens de deu$, que ao passar das brutalidades cometidas vão se transformando em monstros. É quando uma reviravolta acontece e a violência vai até extremos.



O curta contesta os valores “morais” do cristianismo e sua intolerância a relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo, mas de uma forma que só Dennison Ramalho poderia fazer, com muito sangue e uma atmosfera de medo e escuridão.

Este filme não está disponível em sites de vídeo, mas pode ser baixado via torrent por aí.
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Além destes filmes, Dennison dirigiu outro curta, Nocturnu, que foi o seu primeiro trabalho. No entanto, nunca achei em lugar algum. Se alguém conseguir, me avise. A título de curiosidade, ele roteirizou o filme A encarnação do Demônio, do mestre José Mojica Marins, o Zé do Caixão.


Vejam estes filmes se estão a fim de levar suas mentes a doentios e violentos universos, onde o horror é propagado com vigor! Retirem cardíacos, hipertensos e crianças da sala.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Entrevista com Flageladör | O Assalto da Motosserra é iminente

No começo deste século surgia o Flageladör. Vindo de uma leva de bandas cariocas que está fazendo, sim, história, como Farscape, Apokalyptic Raids, Grave Desecrator, etc... Capitaneada pelo maníaco Armando Exekutor, a banda logo ganhou fama no submundo, devido seu speed/Thrash Metal visceral cantado em português. Hoje, com quase 15 anos de estrada, e após diversas formações, o Flageladör está mais vivo que nunca. Confiram entrevista que fiz com Armando, que nos fala, dentre outros temas, do novo disco Assalto da Motosserra, turnês, saída do the Unhaligäst e novos projetos.

Erick MadDög, Armando Exekutor e Turko Basura



Por Jaime “Netão” Guimarães

1.  Saudações, Armando! O Flageladör está prestes a completar 15 anos de estrada. É um tempo bastante considerável. Que paralelo você poderia traçar sobre como era a cena no começo nos anos 2000 e como é hoje? Naquela época os “revivals old school” começaram a surgir, como você vê isso atualmente?

Armando: Saudações, Netão! Em primeiro lugar, obrigado pela força e pelo espaço cedido! Realmente é muito tempo, tendo em vista que a banda nunca chegou a parar de fato. Obviamente, nunca estivemos tão ativos na cena quanto hoje em dia, principalmente pela facilidade com que temos para marcar turnês, para mantermos contato diário com headbangers de todo o mundo através de ferramentas como a internet, etc. O paralelo que eu posso fazer entre o início da banda e a atualidade é justamente pela facilidade de acesso com a qual as pessoas conseguem manter um contato regular conosco, e vice-versa.


2. Como se configura a formação atual do grupo? O Flageladör já teve inúmeros músicos em seu line-up, e só você permanece desde o início. A atual composição está sendo satisfatória?

Armando: Sim, a banda já contou com grandes amigos nossos, como o Vinícius Hellpreacher (Apokalyptic Raids), o Thiago Caronte (Velho) e o Marcio Cativeiro (Grave Desecrator), para nomear alguns. A formação atual conta com o Erick MadDög (bateria, ex-Comando Nuclear) e Turko Basura (baixo, Cinza Austera), e estou plenamente satisfeito com a adaptação deles à banda. Antes de serem membros do Flagelador já eram grandes amigos meus, e isso é o mais importante para o nosso line-up.


3. A banda vem de duas recentes turnês nacionais. Passou por quase todos – ou todos – os estados brasileiros, e por onde se apresentou foi muito bem recebida pelos fãs. Como você avalia estes giros? Como foi cair tanto tempo na estrada só com o compromisso de tocar? E como vê o crescimento do público do Flageladör antes e depois das turnês?

Armando:
Foi uma das melhores experiências da minha vida, e a conclusão de que é isso o que farei pelo resto dela. A minha vida é o heavy metal, e a estrada é primordial para mim. Não chegamos a tocar em todos os estados, mas o nosso plano para o próximo ano é o de concluir essa missão. Ainda faltam os estados do Norte (só tocamos no Pará), o Centro-Oeste (só fomos à Brasília/DF) e o Rio Grande do Sul. Por onde passamos fomos super bem recebidos, só temos elogios aos headbangers nacionais, é sempre sensacional viajar para cidades novas. O crescimento do nosso público aconteceu de forma rápida, eu notei isso com a minha caixa de mensagens nos e-mails da banda, além da falta de merchandising atual, pois está difícil conseguir acompanhar a demanda.




4. Infelizmente, no underground não há uma estruturação que permita às bandas e seus músicos viverem só de Metal. Além do grande trabalho que se tem para ensaiar, gravar, lançar e distribuir material; é necessário encarar outros empregos para manter-se e pagar as contas. Como você enxerga isso? Acha que em um futuro – próximo ou distante – haverá a possibilidade de ganhar a vida tocando, sem “se vender” para quem quer que seja?

Armando: Realmente é a parte chata de todo o processo. Nós acabamos correndo em direção ao trabalho informal, mas a nossa meta é nos mantermos nesse ramo, com a disponibilidade para viajar sempre.  Essa pergunta é complicada para se responder, pois realmente é algo muito difícil. Nós escolhemos por isso, então significa uma vida “na conta”, guardando cada centavo ganho e redirecionando para a banda.


5. Você participou da criação do The Unhaligäst, gravou um EP e um full-lenght. Pouco antes do lançamento do debut sua saída do grupo foi anunciada. Por que deixou a banda? Essa “separação” ocorreu de forma amigável?

Armando:
Saí da banda após descobrir uma data de show no Rio de Janeiro que cairia bem na metade da turnê do Em Ruínas, na qual eu estaria viajando tocando baixo. Não fui informado sobre esse show e fiquei ciente dele pela boca dos outros. A amizade é a parte principal da relação dentro de uma banda, bem como o respeito. Uma vez que o respeito acabou, o tesão de tocar junto acaba também. Saí da banda, mesmo tendo criado o nome, o desenho utilizado na arte das camisetas, todas as músicas do EP, musica e letra de metade do álbum e letras da outra metade, porque todo o sentido havia acabado. O nome “The UnhaliGäst” não tem mais ligação alguma comigo. É só nome, só um corpo sem alma pra mim. Não tenho ao menos uma cópia do disco para ouvir em casa. Obviamente, ainda tenho muitas músicas guardadas dessa época, e pretendo lançar em breve um novo projeto, bem como regravar todas as minhas 11 músicas utilizadas nesse primeiro momento pela banda.

Formação do The Unhaligäst ainda com Armando


6. Recentemente, você criou a Vënëno Sönorö Records, que será um selo para que você lance, além de seus projetos, bandas de parceiros. Conte-nos sobre essa empreitada. Que tipo de investimento é necessário para se montar um selo/distro?

Armando:
Sim, esse era um plano antigo. A dificuldade principal de se montar um selo é capital, dinheiro. Eu juntei uma quantia inicial suficiente para poder trabalhar com as minhas bandas, investir nos lançamentos do Flagelador, principalmente. Logo assim que eu criei o selo, outras bandas de amigos enviaram propostas para participação em lançamentos, e já confirmei a Vënënö Sönörö nos próximos materiais do Thrashera e do Disturbia Cladis, ambas serão lançamentos de EP’s em 7”LP. Mantenham contato pois virá coisa boa em breve.




7. O Flagelador já prepara o lançamento de seu terceiro álbum de estúdio, Assalto da Motosserra. Como foi o processo de concepção deste material? Ele foi gravado com uma formação diferente da atual, correto? Quem, além da Vënëno Sönorö, lançará o disco, e em que formato?

Armando:
Esse material começou a ser gravado no ano passado, entre as duas turnês nacionais que fizemos. Conta com 7 músicas + a regravação de Vingança, faixa título da nossa segunda demo, lançada em 2003. A capa foi criada pelo grande Emerson Maia, artista já bem conhecido, de Salvador/BA. O álbum foi gravado por mim nos vocais/guitarras/baixo e Gabriel Cabral na bateria (também encarregado pela produção do disco). Ele sairá através dos selos Vënënö Sönörö Records, Obskure Chaos Distro e Metal Reunion Distro, em tiragem inicial de 1.000 CD’s. Em breve temos planos para a versão em LP dele.



8. Já há uma nova turnê esquematizada para a divulgação do novo disco? Quando acontecerá, e por onde passará? Já há convites para tocar fora do país? Quem sabe, América do Sul...?

Armando:
Sim, temos planos para outra tour Norte/Nordeste em maio, além de shows esporádicos pelos outros cantos do país. Os planos para a América do Sul existem, mas pretendemos fazer uma tour por lá apenas depois da divulgação do álbum aqui no Brasil.


9. O que seria o Enxöfre? Fale-nos sobre esse novo projeto. Quem participa dele?

Armando:
O Enxöfre é mais um dos meus projetos, e irei lançar algum material em breve pelo meu selo. Apesar de ter planos para tocar ao vivo, não tenho planos de estabilizar como uma banda fixa, com membros fixos. Minha ideia é a de chamar amigos para participarem eventualmente de gravações e shows, para que o Enxöfre tenha maior disponibilidade para viajar. No momento eu tenho quatro músicas gravadas, contando com a participação do Erick MadDög (bateria nas 4 musicas) e do Sauron, da banda Caverna (guitarra em uma música). A sonoridade é bem crua e remetendo à bandas como Darkthrone, Vulcano, Venom, e com letras em português.


10. Obrigado pelo tempo cedido. Fica o espaço para quaisquer considerações.

Armando: Mais uma vez, muito obrigado pelo apoio e pela força! Nos vemos na estrada!



Contatos:




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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Entrevista com Incarceration | Death Metal brasileiro destruindo na Europa

Daniel Duracell, Björn Freese, Michael "Micha" Koch (Foto by Melanie "FreakyD.com")


O Incarceration surgiu em Manaus no ano 2010. Até então como uma 'one man ban' formada por Daniel "Duracell" Silva. Em 2011 o deathmaníaco se mudou para a Alemanha e lá firmou a formação do grupo como um power trio. Desde então o Incarceration vem destruindo tudo pela Europa com seu Death Metal rápido e desgraçado. Conversamos com Duracell, que nos falou sobre estabilização do grupo, turnês no velho continente e uma possível vinda ao Brasil. Confiram!

por Jaime “Netão” Guimarães


1 – Saudações, Duracell! Incarceration é uma banda com dupla nacionalidade, que teve seu início no Brasil. Como foi a mudança para a Alemanha e formação e estabilização do restante do grupo? Foi difícil se adaptar ao novo país?  Como foi o contato com Michael e Björn?

Duracell: Fala Jaime, beleza? Obrigado pela entrevista e parabéns pelo Under the Ground! Então, o Incarceration teve início em 2010 enquanto eu ainda morava em Manaus. Na época era apenas um projeto solo meu, paralelo às atividades da minha outra banda, o Mortificy. Em 2011 me mudei pra Alemanha (devido à minha mulher que é alemã), e precisava 'tocar'. Sobre a adaptação o mais difícil foi o idioma - aprender alemão de fato não foi fácil -, mas após um ano estudando isso foi superado. Nesse meio tempo segui compondo novos sons, e sempre que ia aos shows em Hamburgo eu perguntava dos bangers pelo baixista e baterista mais fudidos da cena. Passado algum tempo me apresentaram o Björn e um tempo depois o Micha. Eles curtiram o material que eu já tinha gravado sozinho daí marcamos um ensaio. Neste primeiro encontro tocamos várias vezes o som 'Sacrifice' e foi bem animal. Tocamos, batemos cabeça fudidamente, e naquele momento ficou bem claro que o Incarceration estava completo.

 Daniel Duracell in Koblenz (Foto by Bettina Mayer)


2 – Como é o processo de composição da banda? Todos os membros participam? Ouvindo o som fica claro que a influência direta é o Old Death Metal, rápido e desgraçado; mas, além de bandas, o que mais está presente na base do Incarceration? Seja musical ou liricamente.

Duracell: O Incarceration começou como projeto solo meu, nessa época cheguei até a gravar um som completamente sozinho. Nisso, acabei desenvolvendo uma independência muito grande em todo o processo de composição. Até o presente momento isso não mudou muito: continuo compondo sozinho. Até agora todos os riffs e letras são meus, exceto por uma letra que o Micha escreveu e que possivelmente vai figurar no nosso Debut Album. Ele é muito talentoso e acredito que no próximo álbum teremos mais contribuições suas. Sobre nossas influências temos uma gama gigante, mas em resumo somos inspirados pelos riffs mais rápidos de bandas fudidas como velho Slayer, Sepultura, Repulsion, Sadistic Intent, Repugnant, Entombed, Kaamos, Verminous, Merciless, Malevolent Creation, Morbid Angel, Ratos de Porão, Sadus, Dark Angel, entre mais uma porrada de bandas. Sobre a parte lírica, tem certeza que você quer saber sobre isso (risos)? Talvez seja um papo meio baixo astral, mas vamos lá! Liricamente abordo muito as condições existenciais humanas. Antes de sair do Brasil me formei em psicologia, estudei alguns períodos de filosofia também e com isso nutri um interesse grande pelo existencialismo. É impossível existir sem sofrer, sem sentir medo, raiva, angústia, ódio, e sem morrer no final, concorda? E mais: vivemos 'pequenas mortes' a todo instante: um relacionamento que termina, um momento que fica pra trás, estamos cercados de diversas mortes, de diversos 'fins' no nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, nessa caminhada rumo ao fim das nossas vidas, temos que fazer, a todo instante, várias escolhas. Vivemos em um labirinto, onde a cada instante temos que tomar decisões das mais simples às mais complexas. Quem está lendo estas palavras nesse momento escolheu fazer isso, mas poderia estar fazendo qualquer outra coisa. Essa escolha implica ao mesmo tempo em sacrificar uma infinidade de outras escolhas. Estamos todos encarcerados (daí o nome Incarceration), condenados à essa liberdade/obrigação de escolher como caminhar em nossos labirintos da existência, enquanto o tempo segue cada vez mais rápido nos empurrando para os nossos abismos pessoais. Nessa caminhada temos ainda a companhia de vários demônios que habitam dentro de nós, sedentos e sempre buscando se libertar. Nossos desejos, anseios, nossas vontades - muitas delas bem perversas, mundanas e profanas. Isso gera conflito e no meu caso eu transformo esse conflito em Death Metal. Então é sobre esses conflitos e sobre essa forma peculiar de entender o humano que berro no Incarceration: sofrimento, caos, desgraças, perversidade, profanação, demônios e morte. Mas isso é algo bem pessoal meu mesmo e não quero continuar alugando vocês com esse papo não, bora voltar a falar de som aê! (risos)


3 – Vocês lançaram até agora dois materiais: o split Decrepit Aberration(2012), lançado de forma digital junto com o Escarnium(!) do Brasil, e o EP Sacrifice(2013), este lançado em forma de K7, CD e LP, por alguns selos. Como tem sido a circulação desse material? Qual o suporte dado pelos diversos selos que lançaram o Incarceration?

Duracell: Escarnium é uma banda que tem uma influência gigante na história do Incarceration, e esse split foi uma forma simbólica da gente registrar essa irmandade. É o único registro com o Incarceration da época 'one man band'. Não chegou a sair em formato físico, nós fizemos arte de encarte, capa e tudo mas a distribuição é apenas online mesmo. Quem procurar acha fácil pra baixar. Sobre o EP Sacrifice felizmente tem rolado muito bem. Saiu em tape, vinil e CD, e está tudo esgotado. As tapes esgotaram em questão de dias, e o vinil/CD esgotaram em menos de um ano após o lançamento. Ainda tem umas últimas cópias circulando em algumas distros underground, mas tem que garimpar um pouco. Quem lançou foi a FDA Rekotz (Alemanha), Dawnbreed Records (Holanda) e Misanthropic (Brasil). Esses três selos deram uma força sem tamanho, acreditaram no Incarceration enquanto ninguém nunca tinha ouvido falar da gente. Pra gente significa muito e agradecemos muito aos selos e a todos que cataram qualquer material.




4 –  Há também o clipe da faixa Forsaken and Forgotten, presente do EP. A produção ficou simples, mas muito bem realizada. É um belo “cartão de apresentação”. Quem foi o diretor? Ficaram satisfeitos com o produto? O que acha do audiovisual enquanto ferramenta para promoção de uma banda?

Duracell: Por acaso um dia eu conheci um estudante de cinema muito gente boa chamado Mike. Ele disse que tinha uma câmera bacana e daí dei a ideia do clipe, ele curtiu e fizemos. O clipe foi gravado no nosso estúdio de ensaio mesmo (na Europa as bandas se juntam, alugam uma sala, colocam os próprios ‘equipos’ lá e ensaiam). Foi bem simples: nós tocamos Forsaken and Forgotten umas 10 vezes, e a cada vez ele fazia filmagem de um ângulo diferente. No final ele pegou os takes que ele curtiu mais, editou e já era. Nós curtimos bastante o resultado final sim. A gente curte muito convidar amigos pros nossos ensaios, às vezes até organizamos shows privados no nosso estúdio. Com esse clipe nós pudemos mostrar a todos um pouco de como é isso. Nosso espaço, e como funcionamos quando fazemos som juntos. Isso ajudou bastante na divulgação da banda também, definitivamente. Enquanto não podemos fazer um show no Brasil, por exemplo, pelo menos tem como os bangers verem esse vídeo (e os outros que tão rolando) e ficarem mais na pilha pra ver a gente em ação. (risos) \m/





5 – Em 2013 ocorreu uma turnê na Europa, também com o Escarnium. Como foi a experiência de excursionar por 7 países diferentes? A recepção aos shows foi boa?

Duracell: Essa tour foi massa demais. Um monte de filho da puta viajando e tocando em todo canto, não tem como não ser divertido(risos). Tocamos pela Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália, República Tcheca, França e Suíça. Quando planejamos essa tour eu ainda não conhecia o Björn nem o Micha, então o plano era o Incarceration tocar com o line-up brasileiro (eu, Victor Escarnium e Nestor Carrera). Quando chegou a Tour, o line-up alemão já estava afiado então alguns shows rolaram com os alemães e outros com o brazucas. O primeiro show com os brasileiros foi em Milão na Itália. Eu nunca tinha sequer ensaiado com o Victor nem com Nestor. Subimos no palco, daí avisei o público 'pessoal, nunca ensaiamos e estamos aqui no palco, se rolar rateada não liguem'. Pra minha surpresa quando começamos a tocar foi fudidaço e o pessoal pirou demais! Nestor e Victor são músicos muito talentosos além de grandes pessoas. Só temos ótimas lembranças dessa tour, temos que repetir isso aí. Talvez no Brasil?  \m/


6 – Um debut album está sendo composto. A quantas anda o processo para o disco, já tem selos interessados no lançamento? Há também a preparação para mais uma tour europeia, desta vez ao lado do Unaussprechlichen Kulten(CHI) e Zombiefication(MEX), o debut já estará disponível até lá?

Duracell: Já estamos finalizando as composições e felizmente tem selos confirmados pro lançamento, sim. Vai ser um play desgraçado, quem curtiu o EP Sacrifice vai pirar no Debut com certeza. Adianto alguns títulos: Infernal Suffering, Obsessed by Death, Chaos and Blasphemy, Devouring Darkness, entre outros. Só veneno. Estamos planejando gravar e lançar isso no ano que vem (2015).  A tour com Unaussprechlichen Kulten e Zombiefication rolou agora em setembro e foi fudidona, muito show animal. Agora o Incarceration está mais sólido na cena europeia, e participamos de uns festivais bem  bacanas como o Kill Town Deathfest e o Party San Open Air. Esse ano dividimos palco com Repulsion(!!), Dead Congregation, Malevolent Creation, Grave, Suffocation, Napalm Death, Obituary, God Macabre, Sonne Adam, Anatomia, Undergang, Nunslaughter, Kreator, Morbus Chron e muitas outras bandas.


Kill Town Deathfest 2014

Party San 2014

7 – Além do Incarceration, você gerencia em parceria com Vladimir Sužnjević a Roadmaster Booking, uma agência de turnês que já levou algumas bandas para a Europa, como a já citada Escarnium, Headhunter D.C e Violator, entre outras. Sei que você já tem longa experiência em turnês. Como foi pensada a Roadmaster? E, de forma simplificada, como funciona a empresa?

Duracell: Antes da Roadmaster eu já tinha feito algumas turnês pelo Brasil com o Mortificy (minha banda dos tempos de Manaus), além de ter acompanhado o Violator em 2007 na parte estrangeira da Tour Sulamericana deles (Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Argentina, Chile, Paraguai). Em 2010 os Violas me convidaram pra acompanhá-los na tour europeia, e coincidentemente o motorista da tour era o Vlad. Quando voltei pro Brasil após a tour, várias bandas entraram em contato comigo perguntando sobre como fazer tour na Europa, e pedindo meu help pra fazer isso acontecer. Uma dessas bandas foi o Escarnium. Juntamente com os planos de me mudar pra Europa, vi nisso uma oportunidade de trabalhar com algo que curto muito e que já tinha muita experiência por conta das turnês anteriores. Então criei a Roadmaster pra oficializar minha prestação de serviços nessa área. Agora já nos desenvolvemos bastante, trouxemos pra Europa inúmeras bandas brasileiras (como você bem citou), e estamos trabalhando com várias bandas gringas também como Centurian, Skeletal Remains, Evil Invaders, e acabamos de fechar com o Hirax pra uma tour em 2015. Antes nós organizávamos tours de bandas que queriam divulgar seu trabalho na Europa, mas agora estamos fazendo melhor: estamos abrindo a possibilidade pra essas bandas tocarem pela Europa juntamente com grandes artistas (como o Hirax e Centurian, por exemplo). Organizar turnês na Europa é um projeto complexo, audacioso e que demanda muita responsabilidade. Mas basicamente nós fazemos o melhor possível pra oferecer uma solução completa: agendamento de shows, divulgação, aluguel de van, aluguel de equipamentos de som, etc. Bandas interessadas em excursionar na Europa juntamente com bandas renomadas na cena, fiquem à vontade pra fazer contato, são muito bem vindas. \m/


8 – Muitos podem pensar que uma turnê na Europa é fácil, mas há aí uma série de fatores, shows que podem ser cancelados, desgaste de membros, etc. O que uma banda precisa hoje para fazer uma turnê? Há grandes dificuldades?

Duracell: se for muito bem organizada é um pouco mais fácil sim, mas mesmo assim é bem cansativa. Tem que querer muito e ser muito apaixonado pra não ser vencido pelo cansaço, desgastes, etc. Hoje está bem mais fácil que antes pra fazer uma turnê na Europa. Há muito mais informação, comunicação, além de profissionais especializados em trabalhar com isso e oferecer esse serviço pra bandas, como eu. A maior dificuldade, ainda acredito que sejam os custos (principalmente com logística: passagens de avião pra Europa, aluguel de Van, combustível, taxas rodoviárias, etc), e o excesso de shows grandes que rolam aqui (que acabam diminuindo o público de bandas desconhecidas na Europa). Só pra dar um pequeno exemplo, terça-feira(11/11) em Hamburgo rolou Whipstriker/Apocalyptic Raids/Farscape, quarta rolou Overkill, ontem rolou Saxon e hoje a noite vai rolar Convulse/Undergang. Isso pra citar alguns dos shows. Paralelo à isso rolaram vários outros shows de 'rock' em outros clubes da cidade. Então se chega uma banda 'desconhecida' na Europa, por mais talentosa que a banda seja, infelizmente muitas vezes não vai tocar pra grandes públicos, pois se tem com muita frequência shows grandes aqui. Não tem como ter muito público em todos os shows. Por conta disso estamos trabalhando com bandas cada vez maiores e oferecendo a oportunidade pra bandas de qualquer país viajarem como bandas de suporte. Assim, através da Roadmaster Booking uma banda que ainda não é conhecida aqui poderá, por exemplo, fazer uma turnê juntamente com o Hirax, tendo praticamente os mesmo custos que teria fazendo sozinha. Acreditamos que dessa forma os grupos podem desenvolver mais rapidamente suas carreiras na cena Europeia e possivelmente se tornarem bandas muito bem sucedidas por aqui, pois principalmente as bandas brasileiras tem um talento gigante que é muito apreciado na Europa.   





9 – Você está a alguns anos na Alemanha e vez por outra excursionando, seja para tocar ou agenciando as bandas. Poderia traçar um breve paralelo entre a cena no Brasil e no “velho continente”? Como se dá a estrutura de shows(casas, produtores, público)? As bandas conseguem fazer algum dinheiro como as apresentações? Dá pra viver de Metal por aí?

Duracell: A diferença é gigante, por vários fatores. Os clubes aqui geralmente organizam shows quase todos os dias, ou pelo menos recebem artistas internacionais todas as semanas. Então eles  tem um know-how muito maior do que aquelas casas que organizam um show a cada dois meses. No Brasil ainda rola muito de se organizar show em espaços que não tem rotina de receber artistas. Então geralmente não tem equipamentos de qualidade, não tem camarim pras bandas, profissionais de som. Aqui isso é diferente, muitos clubes tem até alojamentos onde as bandas podem dormir depois do show pra seguir suas viagens. Há uma circuito de turnês construído há décadas e muito sólido, então os clubes são bem adaptados à isso e quem ganha são as bandas. Outro fator: logística. As distâncias entre as cidades e países em uma turnê são bem menores: daqui de Hamburgo, em 5 horas de carro se chega na Holanda, Bélgica, Dinamarca, França, República Tcheca ou Polônia.  Ou seja, muitas vezes é possível organizar uma turnê de 15 shows, em que cada show fica a em média 3 a 5 horas de distância um do outro. Sobre grana, uma diferença grande está na venda de merchandising. Além do cachê dos shows, aqui se vende muito merchandising, o europeu tem mais poder aquisitivo e quando curte a banda ele compra mesmo as camisas, cd's, etc. Apesar disso, eu conheço muito poucos artistas que vivem do metal como músicos aqui. É perfeitamente possível cobrir os custos de uma banda com a venda de merch e cachês, e talvez sustentar algum membro, mas pra sustentar 4, 5 membros a banda precisa ter um nome muito sólido na Europa e tocar muito. Fazer turnês o tempo inteiro.

10 – Fica o agradecimento pelo tempo concedido e também o espaço para qualquer consideração. Continuem fazendo Death Metal cru e ligeiro! Avante!

Duracell: Netão, valeu você por dedicar teu tempo e suas energias pra fazer um material como este. Atitude admirável. Torço muito pra que você receba muito apoio, e que o reconhecimento por esse trabalho sirva de combustível pra você seguir produzindo. E que isso inspire mais bangers a fazer o mesmo, precisamos de mais iniciativas assim! Te prometo que por aqui continuaremos fazendo Death Metal cru e ligeiro sim, cada vez mais ligeiro (risos)! Pros leitores que acompanham o Incarceration e querem ver a gente em ação no Brasil, aviso que uma tour por aí está definitivamente nos nossos planos. Fiquem à vontade pra fazer contato com a gente, vocês são extremamente bem vindos. Espero em breve estar levando nossa devastação Death Metal pro Brasil pra gente bater cabeça juntos aí! Death Metal rules, uhhhh!!!!!!!!!


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