sábado, 27 de dezembro de 2014

Entrevista com Suffocation of Soul | A invasão do Thrash Metal Old School

Criada em 2006, a Suffocation Of Soul, de Poções (BA), destacou-se em 2014, devido o lançamento de seu excelente debut album, The First Attack, que apresenta um Thrash Metal rápido e feroz, com técnica na medida exata e muitas influências de bandas oitentistas. Coroando o lançamento do full, o grupo realizou uma turnê por diversos estados do país. Conversamos com André Costa, baixista e vocalista. Acompanhem!



Por Jaime “Netão” Guimarães

1. Saudações, André. Obrigado pelo tempo cedido. O Suffocation of Soul surgiu em 2006. Época em que diversas bandas de Thrash apareceram na cena. Muitas devido ao então “revival thrash”, que teve o Violator como um dos símbolos. No entanto, daquela “safra” poucos grupos continuaram ou se mantem ativos, lançando material e fazendo shows. Fale-nos sobre a formação do grupo e o motivo por enveredarem pelo Thrash Metal. Vocês foram influenciados por esse tal “revival”?

Olá meu amigo Jaime, obrigado pelo espaço cedido! Então, o Suffocation Of Soul começou em 2006 com quatro moleques a fim de fazer muito barulho. As influências eram diversas, mas as nossas piras eram mesmo o Thrash clássico, aquele do inicio do movimento, e o heavy metal tradicional. Em 2006 nem tínhamos ideia que estava rolando um ”revival” do estilo. Me lembro de ter ouvido o Invencible War do Bywar no inicio dos anos 2000, fiquei bem empolgado, mas nem imaginava que já tinham várias bandas fazendo esse som. Só fui sacar esse ”revival” no ano seguinte, em 2007; um amigo me apresentou o Violator e o Farscape (Essa ultima eu confesso que me influenciou, principalmente por causa do vocal do Leonardo). No geral as influências foram de bandas antigas.


2. A banda é Poções (BA), uma cidade do interior. Como é a cena local? Há outras bandas de Metal? E no tocante a shows, há com frequência?

Somos dessa pequenina cidade do interior baiano, a cena local tem melhorado desde que começamos, algumas bandas tem surgido, e também outras tem sumido sem deixar qualquer registro. Os shows têm rolado com uma frequência, mas bem menor do que nós queríamos. Eu, junto com alguns amigos, tenho uma produtora, a GUERRILHA PRODUÇÕES; com ela temos movimentado um pouco o underground da nossa cidade, mas passamos por problemas pertinentes em toda pequena cidade, publico pequeno, dificuldade pra arranjar locais pra realizar os eventos, etc.


3. Percebo que a banda tem uma linha de som muito bem definida. Um Thrash Metal rápido com um ótimo trabalho de guitarras. Nos três registros do grupo também há espaço para músicas com uma pegada mais speed ou heavy metal. Há uma coesão nos três trabalhos, a demo Demoniac Empire, o EP The Last Way of Madness e o full lenght The First Attack. Como você definiria o processo de composição do grupo, e a evolução, musicalmente falando, desde o início?

Eu gosto dos três materiais. Na Demoniac Empire éramos bem moleques, mas até que tocávamos bem. Quanto à produção não tínhamos a mínima noção, tanto que esse fator deixa muito a desejar, gosto das composições, a produção eu acho “paia” (risos). Mas acho natural que seja assim, é uma demo de três moleques “terceiro-mundistas”, a tosqueira faz parte do processo. O Last Way  gravamos no mesmo estúdio da primeira demo. Tentamos ter um cuidado maior com a mixagem, mexemos muito e o resultado mais próximo do que a gente queria é o que está no EP. No lançamento até achei bem massa, hoje gosto mais da demo. No full eu vejo uma boa evolução no quesito produção, musicalidade, letras. Acho que a sede que estávamos de lançar esse material surtiu efeitos em todos os aspectos! O processo de composição é como o da maioria das bandas, um nego chega com riffs, outro com letra e em pouco tempo temos uma musica pronta. Se soa Speed, Thrash ou Heavy, isso é culpa das tantas influências. (risos)



4. Particularizando o debut álbum. Como foi o processo de gravação de The First Attack?

Já tínhamos quatro músicas, duas do EP The Last Way of Madness e outras duas gravações de 2010 não mixadas. Gravamos batera e vocal no estúdio Drummond, do camarada Daniel, em Vitória Da Conquista (BA) e as cordas gravamos no estúdio Smartsound do nosso grande amigo Ted, também em Vitória Da Conquista. A gravação foi tranquilassa! Já tocávamos as musicas a algum tempo, por isso foi de forma tranquila e até bem rápida.


5. O material foi lançado por nove selos ao total. Como foi esquematizado? Naturalmente, já havia uma espécie de “rede” de distribuição, dado o número de gente envolvida. Quem esteve envolvido no lançamento e distribuição de The First Attack? E qual o resultado disso. Como avaliaria a circulação do disco?

Não, não existia uma ”rede” de distribuição, isso aconteceu por que fizemos vários contatos e elaboramos uma proposta que ficasse viável para todos os envolvidos no lançamento. Nove selos toparam, e assim foi feito. Os envolvidos são: Insulto produções, Terceiro mundo chaos, Desgraça na terra, Guerrilha produções, Metal Reunion Distro, Rock Animal, Kill Again Records, Violent Records e Guillotine Records; selos e distros dos quatro cantos do país. Eu particularmente acho essa forma de lançamento perfeita! O custo é baixo para todos os envolvidos, e a banda ganha muito com divulgação, pois tem o seu trampo espalhado em diversas regiões do país.



6 – Para divulgar o disco a SoS realizou uma turnê por diversos estados do Brasil. Como foi poder cair na estrada e divulgar o som da banda? Quantos shows foram realizados, e em que locais? Fale-nos sobre a recepção ao grupo e o saldo da viagem.

Essa tour era um desejo antigo.  Já vínhamos nos articulando por um tempo pra realiza-la, e ela aconteceu no momento certo! E o que eu posso dizer? Foi incrível! Tudo saiu melhor que o esperado. Não tenho certeza, mas foram entre 19 e 21 shows. A  “First invasion tour” passou pelos estados de SP, RJ, MG, BA, PE, PB, SE e RN. Cara, fizemos tantos amigos, topamos gente tão longe de casa que conhecia todos os nossos trampos, dividimos palco com bandas e incríveis, e fortalecemos antigas amizades, e o mais legal de tudo é que não rolou nenhuma treta, provando que a nossa amizade tá acima de qualquer onda! Foi tudo muito proveitoso, e tiramos uma puta experiência disso. Em 2015 estaremos caindo na estrada novamente.


7 – Ainda sobre a turnê. Vocês a fizeram em parceria com uma empresa de booking, a Speed Freak. Como foi firmada essa aliança? Qual o suporte dado à banda?

Acompanhamos a criação e todo o desenvolvimento da Speed freak, capitaneada pelo nosso amigo Victor Elian. Trabalhar com um cara que tem conhecimento de causa e acima de tudo, vê o lado de todos, é muito fácil! Ele nos deu todo o suporte, foi motorista, roadie, técnico de som e segurou a onda na mesa de merchandising enquanto tocávamos. Só pagamos pelo booking, o resto foi na camaradagem, só pela vontade de colaborar e ver as coisas acontecendo.



8 – Recentemente foi anunciado o lançamento de um Split chamado S.W.A.T, do qual a SoS participará ao lado de outras três bandas. Conte-nos sobre essa nova empreitada. Que outros grupos participarão?

Esse foi um convite do Alex Allen da Guillotine Records do Piaui, parceiro que já trabalhamos no lançamento do full e na compilação Winds of blood. Além do SoS mais três ótimas bandas do nosso subterrâneo farão parte de four split, são elas : Thrasheira, Warpath e Angry.


9 – Quais os próximos passos para a Suffocation of Soul? Além do Split já há outras atividades programadas?

Alem do four split comentado acima, também lançamos recentemente outro Split, em fita K7, com a banda catarinense de Death Metal Sodomned, intitulado “Graveyard of  perpetual lies”, que traz de um lado nossa primeira demo e mais duas gravações ao vivo, sendo uma cover de ”contando os mortos” do RxDxP. A tiragem foi limitada, mas quem se interessar pode procurar com os selos responsáveis pelo lançamento: Terrorismo Produções e Ihells Produções. Tá nos planos cair na estrada e lançar outro material em algum formato que não lançamos ainda, tipo vinil ou algo assim. Há um vídeo clipe também, quem sabe?




10 – Mais uma vez obrigado pelo tempo cedido, brother. Fica o espaço para quaisquer considerações.

Eu agradeço imensamente pelo espaço, que essas cooperações continuem e se fortaleçam com o tempo.

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Entrevista com União Headbanger RJ | Underground livre e independente

Nos últimos meses um movimento começou a ganhar força. Vindo das tropicais terras do Rio de janeiro, e legitimamente das entranhas do underground, surge a União Headbanger RJ, um coletivo que abarca bangers, bandas, produtores, zineiros, selos, distros, etc; e  vem realizando uma série de eventos em prol da cena local. conversamos com a UH sobre  a iniciativa, a postura do grupo, e como eles agem no subterrâneo. Acompanhem e compartilhem!



Por Jaime "Netão" Guimarães

1. Saudações, Maníacos! Como a união headbanger RJ formou-se? O que motivou esse movimento? Que bandas, selos e distros participam da iniciativa?

UH: Todos estavam reunidos em um show no Subúrbio Alternativo em Brás de Pina do Rio de Janeiro. Conversamos sobre a necessidade de unir esforços pra manter a cena mais ativa e então decidimos formar esse coletivo. A ideia é organizar shows com bandas locais e de fora do Rio, mantendo também a integração com outros estados. A União Headbanger deve ser nacional, mundial, e não estar restrita ao Rio. Além disso, já estamos lançando um zine de papel para começar a documentar a história do presente. Quem tiver a mesma vontade de união pode juntar-se a nós. Somos ao mesmo tempo um coletivo de bandas, selos, distribuidoras, organizadores de shows, ziners e bangers. Não vou citar nomes por agora. Vá aos nossos encontros, ouça nossa coletânea que distribuímos gratuitamente, leia nosso zine.


2. Que perfil vocês traçariam acerca do Metal no Rio de janeiro? E como a UH se encaixa nesse todo?

UH: Como em qualquer lugar do mundo, há pessoas que se interessam pelo underground e há outras (a maioria) que pensam de modo competitivo e por isso fazem tudo pra alcançar o mainstream. O Rio também é assim. A União Headbanger sempre será minoria dentro da cena. Estamos construindo uma história independente. Não precisamos de grandes produtores, anúncios em revistas ou qualquer coisa do tipo. A União Headbanger produz shows e direciona todo o dinheiro para as bandas que estão tocando. Nosso zine custa apenas 1 real, que é o preço para fazermos mais cópias. União Headbanger significa: Faça-você-mesmo; Independência; União.


3. Pelo perfil da UH no Facebook, pude acompanhar que, vez ou outra, vocês reafirmam as posturas  do coletivo e esclarecem que ele não existe para excluir pessoas por gostos diferentes ou problemas pessoais. Além disso, os membros fazem parte de um grupo de amizade de longa data. Acha que isso pode deixar alguns com pé atrás, ou com receio de se integrar? Novos grupos e indivíduos vêm se juntando à União?

UH: Sim, como qualquer grupo temos uma postura bem definida. O coletivo está sempre aberto para receber novas pessoas. No entanto, justamente porque temos liberdade de escolher com quem vamos nos juntar, optamos por não nos associar com pessoas e produtores que estejam ligados a algumas ideologias: fascismos em geral e religiões quaisquer. Somos a favor da liberdade e acreditamos que fascismos e religiões são os pontos mais opressores e controladores de uma sociedade. Infelizmente, para pregar a liberdade temos que excluir quem é contra a liberdade. É muito simples nossa postura, mas algumas pessoas problematizam o óbvio. Cada vez mais bangers têm ido aos encontros que fazemos em diversos pontos do Rio aos sábados. O mesmo acontece em nossos shows. E se alguém tem receio de se juntar a nós é porque bate de frente com nossas ideias. Normalmente quem critica a União Headbanger é fascista, religioso ou “I wanna be mainstream”.

Reunião de bangers da UH no Rio de janeiro


4. Ao mesmo tempo, com a facilidade de comunicação que existe hoje – a internet – a UH ultrapassa os limites físicos de seu Estado e atinge headbangers simpatizantes em diversas regiões do país. A que isso se deve? Acham que a popularidade de alguns grupos que a compõe, vide Apokalyptic Raids, Whipstriker, The Unhaligäst, contribuem para essa empatia? Acreditam que essa ideia de união e cooperação pode espalhar-se por outros locais?

UH: A internet é um grande veículo de comunicação. O que fazemos é utilizá-la a nosso favor. Mas preferimos ir além do virtual e estabelecer conexões através de veículos físicos. Por isso começamos a fazer o zine de papel, assim como CDs com músicas de bandas do Rio. A ideia já se espalhou por vários estados. O tempo inteiro recebemos mensagens perguntando sobre nossa forma de funcionamento, sobre como organizamos os shows, qual é nossa proposta, etc. Em todos os lugares existem bangers com esse pensamento de coletividade. A popularidade dessa ideia deve-se ao fato de que existem bangers reais em todos os lugares, ou seja, bangers que querem produzir Heavy Metal PARA o Heavy Metal. As bandas que você citou são apenas bandas que pensam dentro dessa perspectiva. No Brasil existem muitas outras que se identificam com esse pensamento de coletividade e independência.


5. Há previsto o lançamento do União Headbanger Zine, que acontecerá esse mês em conjunto com a realização do We Want Armageddon Vol 4. Contem-nos sobre essas empreitadas. O zine marcará um ano de UH, o que pôde ser feito nesse tempo? Como será feita a distribuição?

UH: A ideia do zine sempre existiu e finalmente conseguimos por em prática. Será lançado dia 27 de dezembro de 2014 e marca um ano do nosso projeto coletivo. Nesse tempo fizemos vários encontros (sem shows) na Lapa, centro do Rio de Janeiro, produzimos uma coletânea em CD-R para espalhar a ideia pelo Brasil e outros países e organizamos mais de 20 shows em diferentes partes do Rio (Zona Sul, Centro, Zona Norte, Baixada Fluminense). Cumprimos perfeitamente com a ideia que planejamos desde o começo. As coletâneas são distribuídas em shows undergrounds do Rio e do Brasil. Também temos distribuidores da coletânea na Alemanha, França, Itália, Bélgica, República Tcheca, Portugal, Espanha, Estados Unidos, México, Canadá, Peru, Bolívia, Argentina, Japão, Malásia e Indonésia. Quem distribui é porque faz parte de alguma banda underground ou possui um selo que lança bandas undergrounds. O zine ficará restrito ao Brasil porque sempre será lançado apenas em português. Talvez enviemos para alguns países de língua espanhola (talvez).

Capa do União Headbanger Zine




6.  Recentemente a cena underground nacional passou por algumas turbulências, a exemplo de cancelamentos de shows, confusões, e, o mais notável, a questão envolvendo o festival Zoombie Ritual. Como vocês enxergam esse momento do Metal Nacional? O que acham da realização de grandes festivais no país?

UH: Isso é uma opinião divergente dentro do grupo. O que é consenso é o fato de boicotarmos produtores que estejam envolvidos com alguma forma de corrupção. O que sempre discutimos é que existem outros festivais mais legais de serem apoiados, como o Evisceration Metal Fest na Bahia, o Kill Again Fest em Brasília, O Culto ao Macabro no Rio Grande do Norte, O Metalpunk Overkill de Minas Gerais e vários outros eventos que ocorrem com frequência dentro do Brasil e que sempre privilegiam bandas undergrounds. A Cena não vive de shows com bandas “grandes”. A cena sempre viverá e existirá através do underground. O fato é que preferimos fazer a nossa parte sem pensar em grandes festivais com bandas mainstream. Optamos por trazer pro Rio bandas com postura underground. Nesse próximo evento estamos trazendo uma banda underground de Black Metal da Colômbia, o The Satan's Scourge.



7.  Há pouco mais de uma semana aconteceu o Evisceration Metal Fest, na Bahia. O festival, que contou com mais de 30 bandas nacionais, acabou por não conseguir se pagar, gerando um grande prejuízo para a produção. Logo formou-se uma corrente de várias pessoas do underground visando ajudar os produtores a diminuírem suas perdas. A União Headbanger RJ também está envolvida. O que podem falar desse episódio? Como   é ver o underground se mobilizando desta maneira?

UH:  Nós achamos que essa é a postura ideal. Quando soubemos do prejuízo do festival procuramos ajudar de alguma forma. E a forma mais fácil e viável é organizar um evento para levantar fundos. Faremos isso no início de fevereiro. Essa atitude mostra realmente o que é e como deve funcionar o underground, ou seja, através da ajuda mútua, do coletivismo. Imagina se um produtor faz um show do Iron Maiden e toma prejuízo. Você consegue imaginar outros produtores se mobilizando para arrecadar fundos? Claro que não! Porque no mainstream o importante é o dinheiro. No underground, procuramos viver a margem desse tipo de ideia.


8. Ainda sobre  festivais. Logo após o final do Zoombie Ritual espalhou-se a notícia da realização do Monsters Of Rock, com grandes bandas mainstream. A procura por ingressos é enorme, enquanto eventos underground suam para colocar 300 pessoas em uma casa de shows. Na sua visão, por que o headbanger brasileiro dá tanta importância a eventos grandes e pouco a iniciativas subterrâneas? A  mídia especializada contribui pra isso? Há como mudar esse quadro?

UH: Como foi exposto acima, a maior parte das pessoas vive no mundo mainstream. Essas pessoas só conhecem as bandas que saem nas “revistas grandes”, onde é necessário pagar para ser exposto. Quantas vezes o Angra saiu na capa daquela revista de São Paulo? Muitos bangers undergrounds vão ao Monsters of Rock pelo motivo óbvio de que são bandas clássicas que influenciaram e influenciam até hoje milhares de pessoas. Minha mãe conhece Kiss e Ozzy, mas você acha que ela é headbanger? O que estou querendo dizer é que nesse tipo de evento a maior parte do público nem sequer sabe o que é e o que se passa no underground. São pessoas com mentalidade diferente, são eventos com mentalidade diferente. Respeitamos e fazemos nossa parte à margem disso tudo.

Coletânea União Headbanger RJ - Foto por Slanderer Possessed

9. O que a União Headbanger RJ planeja para 2015? Há possibilidade de um grande festival, sugerido por Victor Whipstriker?

UH: Não sabemos ainda se isso será viável. O Victor soltou a ideia e todos nós queremos muito realizar esse grande evento trazendo bandas undergrounds de todas as regiões do Brasil para o Rio de Janeiro. Mas diante dos altíssimos custos com equipamentos e aluguéis, ainda vamos nos reunir várias vezes antes de decidir o que fazer, afinal, não queremos fazer um “ritual de zumbis” na nossa cena.


10. Agradeço o tempo cedido. Fica o espaço para quaisquer considerações.


UH: Nós agradecemos pelo espaço e deixamos claro que somos a favor, apoiamos e respeitamos todas as iniciativas undergrounds. Shows, zines, blogs, selos, distribuidoras. Repetimos que somos contra posturas religiosas, violência e qualquer tipo de fascismo (homofobia, racismo, machismo etc). União Headbanger é a união do underground livre e independente.


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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Grandes festivais de Metal no Brasil | É bom demais pra ser verdade?

Por Jaime "Netão" Guimarães

Era bom demais pra ser verdade: esta era uma das frases mais repetidas por headbangers de todo o Brasil em abril de 2012, período em que aconteceu o fatídico e infame Metal Open Air (MOA). Meses antes a euforia era imensa. Do nada surge o boato de que haveria um grande festival no país. O que era boato começou a ganhar corpo, e bandas, local, venda de ingressos, estrutura, logística, etc, foram anunciados. O povo começou a creditar que o evento aconteceria mesmo e que seria um marco para o Metal no Brasil. Tudo ficou a cargo das empresas Negri Concerts, de São Paulo, e Lamparina Produções, do Maranhão, Estado onde foi realizado o festival.

Porra. Quem não queria que aquilo desse certo? Obituary, Destruction Exodus, Anvil, Venom, Ratos de Porão, Attomica, Exciter, Headhunter DC, e mais uma caralhada de bandas que todo mundo gostaria de assistir, e o melhor, tudo num fest só, e no Brasil. Imagina!? Eu mesmo cheguei a comprar meu passaporte, só não fui por motivo$ outro$.

Mas era bom demais pra ser verdade...



Às vésperas da grande celebração que seria o evento os problemas começaram a surgir, e pela internet todos tinham pelo menos noção do que seria um grande perrengue. Falta de organização, de segurança, de orientação; e o pior: falta de bandas. Diversos grupos começaram a cancelar suas apresentações por falta de pagamento de cachês, passagens e outros pormenores acordados. Algumas, a exemplo do Obituary, chegaram a desembarcar no aeroporto de São Luiz, mas tiveram que voltar, pois não havia nem suporte. Nada.

Resultado. O festival aconteceu, mas com menos da metade das bandas vendidas em seus ingressos e material promocional, e com muito menos ainda em serviços que eram prometidos aos consumidores. Muitos ainda aproveitaram as apresentações que foram possíveis de acontecer, mas a raiva por serem lesados permaneceu. Sem contar as horas e horas gastas em ônibus vindos de longas distâncias, as dormidas em aeroporto, os furtos dentro do local do evento... o caso foi até parar em rede nacional, e os produtores (de merda) ficaram marcados como bandidos, tendo o posto de líder o pilantra Felipe Negri.

Pois bem. Voltando pra 2014. Esse ano foi anunciado um grande cast no Zoombie Ritual, um festival já firmado no cenário metálico do Brasil, que está em sua sétima edição e acontece em Rio Negrinho, Santa Catarina. Além de grandes nomes gringos, muitas clássicas bandas nacionais foram anunciadas como integrantes da grade de shows do evento, que acontecerá durante este fim de semana. Até aí, tudo bem. O Zoombie Ritual já tem uma tradição, foi realizado por outras seis vezes, e sempre agradou o público. Não é um MOA, que surgiu de uma hora para outra. O problema foi uma onda de cancelamentos que se sucederam e acabaram por gerar polêmica quanto a idoneidade da produção. Para citar alguns: Mpire of Evil, Onslaught, Stress, Krisiun, Brujeria, Carcass, incantation, Whiplash, Ragnarok, etc.



O público do evento ficou dividido. Uma parte acha que é comum que alguns  grupos cancelem em um festival desse porte; outra parcela ficou indignada com a “falta de competência” dos produtores do festival e até chegaram a cancelar sua ida. Muitos se dizem arrependidos por terem gasto dinheiro com passagens, barracas, planejamento, e estão frustrados. E outros, também, não deram tanta importância para as baixas no line-up e vão para os quatro dias de Metal em Rio Negrinho. Demais eventos pelo país foram prejudicados e tiveram que dar seus pulos para resolver os buracos em sua programação, já que aproveitariam a vinda das bandas para fazer mais datas, além do Zoombie. Teve até membro de banda, a exemplo o Onslaught, que ficou sabendo que não iria mais vir pelo facebook.

Já a gerência do ZR explicou as faltas do cast tendo como argumentação problemas financeiros e pouca procura por ingressos antecipados, cujo valor arrecadado seria utilizado para custear a vinda dos grupos. Algumas outras bandas, como Salário Mínimo e Sex Trash, desistiram por motivos alheios à produção do evento. Foi também dada  opção de as pessoas que se sentirem lesadas reaverem seu dinheiro de volta, e alguns outros grupos entraram para "tapar buraco".



É bom frisar que, apesar da comparação, esse texto não visa acusar o ZR de agir da mesma forma que o MOA – muito longe disso –, mas sim trazer uma reflexão acerca da realização de grandes festivais, com enormes custos e logísticas complexas, sendo realizados para o público underground do Brasil. Os brasileiros não são capazes de realizar grandes eventos? Sim, são. Sou contra o discurso derrotista que prega o “ah, isso é Brasil...”, pois isso põe todos em um mesmo “saco”, e é preciso reconhecer que há muita gente ralando pra fazer bons eventos, com muitas bandas, e o máximo de seriedade possível.

O problema é querer abraçar o mundo com os braços. Falta de planejamento. Não se pode entrar em uma empreitada deste porte e se confiar em venda de ingresso antecipado, isso é um tiro no escuro. Não se pode chamar trocentas bandas gringas fodas e não ter a garantia que poderá arcar com a vinda, estadia e pagamento de todas. Mesmo agradando uma ala do público, outra ficará insatisfeita, e estes últimos farão barulho na próxima edição, e muita gente ficará com pé atrás em futuros eventos. É uma bolha estourando e sujando todo mundo.  

Para além do nacional, fica a imagem de que no Brasil não tem produtor responsável (e podem acreditar que uma imagem suja é mais difícil de limpar do que o contrário). Recentemente houve o caso do Toxic Holocaust, que cancelou parte de sua turnê na América do Sul e acusou não cumprimento de alguns cachês e acordos em países vizinhos, o que gerou um enorme problema e constrangimento entre a banda e os bangers que queriam ver os shows, além de acusações de produtores brasileiros a outros sul-americanos e vice-versa. E isso é só pra citar um caso, dentre vários.


Vejam bem. Imaginemos, por um momento, que toda essa energia para fazer “o maior festival que o Brasil já viu”, pra trazer “o maior cast que este país já presenciou”, fosse utilizada para fazer um puta festival com muitas bandas nacionais e algumas gringas possíveis, como acontece em algumas iniciativas louváveis aqui mesmo. Melhor, se reduzissem, um pouco, a ambição e planejassem bem seus gastos e estratégias de marketing, visando não depender do ovo no cu da galinha.  Ninguém quer outro Metal Open Air. Imaginem! Seria bom demais pra ser verdade?


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sábado, 6 de dezembro de 2014

A reprodução ingênua de princípios do marketing no Metal | O Anacronismo de um projeto inviável


Por Hugo Magalhães*

No metal, o fato de uma banda adquirir mais notoriedade do que outras nos grandes meios de massa, deve-se mais ao acaso do que à quaisquer modelos causais que sejam capazes de predizer a possibilidade de seu estrelato. Em outros termos, se na vida real você é um bom profissional, você dificilmente vai ficar sem emprego. Todavia, por razões sócio-históricas, mesmo se você for um bom músico, dificilmente vai viver de metal (excluam-se casos de produtores e donos de estúdio que gravam metal, pois estes não estão vivendo como músicos, e muito menos como produtores de metal, pois ao menos uma parte, grande ou pequena, do dinheiro no fim do mês vem de trabalhos com bandas que não são de metal). Não é difícil encontrar evidências que consubstanciem isso, basta olhar ao redor e buscar por regularidades nos ciclos de surgimento e renovação das bandas que vivem de metal. Essa regularidade é casual. 

Não é novidade dizer que o empenho em busca da sepultarização (termo cunhado por Leon Manssur e amigos) do metal vem de quem quer "profissionalizar" o meio, com o intuito de torná-lo não somente um estilo de música estruturalmente mais sério, como também um estilo midiaticamente mais amplo, bem aceito socialmente e consequentemente mais rentável. Isto não se aplica aos produtores e músicos que focam em viabilizar estruturas de qualidade para a realização de shows, lançamentos, publicações, entre outros. Aplica-se aos produtores e músicos que tratam esses aspectos como secundários à manutenção do cenário, que tratam sim, a manutenção de seu status social e de sua rentabilidade financeira com o cenário como aspecto primordial de suas ações, dentro do cenário. Não obstante, talvez por isso os entusiastas desse movimento sejam em sua maioria membros de bandas que buscam seu lugar ao sol por meio do sonho de viver financeiramente da banda, produtores que querem o mesmo por via da realização de eventos e fãs ingênuos de metal que valorizam mais a forma do que o conteúdo dos grupos que ouve e dos eventos que frequenta.

O termo “sepultarização” faz uma óbvia menção a atitude de busca pelo estrelato no metal, englobando indiretamente demais ações que se relacionem em maior ou menor grau com uma relação de troca financeira exacerbada entre banda/produção/público. A bem da verdade, esse projeto pró-profissionalismo e pró-divulgação do metal tem  levado menos à consolidação de seus objetivos sócio-financeiros do que à reprodução impensada, dentro do meio, de crenças que beiram um usufruto ingênuo de técnicas de marketing que são em sua essência profundamente excludentes.

De um ponto de vista sócio-histórico, podemos inferir que esse projeto é em si mesmo anacrônico, por aderir a crenças que são insustentáveis quando comparadas à objetividade dos fatos históricos que o precedeu. A história do metal está aí, fartamente documentada em diversos meios da internet, para quem quiser procurar de verdade (favor buscar fontes confiávei$). Ela nos ensina que metal não foi o som que fez a cabeça do adolescente das últimas 4 décadas. 

Por exemplo, no Brasil, a exposição do Sepultura, Angra e Krisiun nos meios de massa não fez com que fãs de Cazuza, Nirvana, Pitty ou NX Zero se tornassem headbangers. Isso diz da baixa aceitabilidade social do metal enquanto estilo musical em nossa sociedade. Poderíamos pensar em uma série de outros exemplos. Em geral, isso deve ocorrer porque as pessoas não têm interesse em ouvir uma música barulhenta, que fala sobre morte, guerra, anti-cristianismo, satanismo, etc; temas tão caros à história evolutiva de nossas crenças morais. Não vale dizer "você está desconsiderando a mente oriental". Não procede. Troque o cristianismo por outro sistema de crenças espirituais (e.g. hinduísmo) e estaremos lidando com a mesma estrutura do processo. Isso explica porque em geral não se pode viver de metal. Por outro lado, a história também nos ensina que a relação “profissionalismo x seriedade” pode ser inversamente proporcional, quando observamos que não é necessário representar um “profissional” para ser profissional no meio, produzindo conteúdo e eventos de modo competente e qualitativo. Isso explica porque em geral, a replicação de princípios do marketing contemporâneo no metal é um ato improdutivo, anti-funcional e mesmo irreal, dada as condições inerentes à produção de música pesada, na qual o metal está circunscrito.

Por isso, sejamos mais críticos. Pau no cu no discurso profissionalista de araque de quem paga para abrir show, para sair em revista, para lançar disco. De quem não conquista um lançamento ou espaço em um show/festival com seu som, mas com dinheiro. Do produtor que oferece condições gritantes, e que só pensa no que vai ganhar quando o show terminar. Finquemos os dois pés no chão,  olhemos para a história em nossa retaguarda! A racionalidade agradece!

* Texto escrito pelo brother Hugo Magalhães (Carrasco, Beast Conjurator). Se tiver a fim de expor opinião aqui no Under The Ground, fique à vontade. Contate-nos!

Cemitério | Lançado clipe da música Natal Sangrento



Por Jaime "Netão' Guimarães

Recentemente Hugo Golon, figura por trás do Cemitério, lançou em sua página do Facebook um novo vídeo da banda. desta vez um clipe para a música Natal Sangrento, presente no debut album. O clipe também foi veiculado pelo perfil da Kill Again Records, selo responsável pelo lançamento.

O vídeo foi montado com cenas do filme Silent Night, Deadly Night (Em português, Natal Sangrento - 1984), um horror slasher, onde um Papai Noel assassino persegue suas vítimas e acaba com suas vidas de forma violenta, com tiros, facadas, marteladas na cabeça, machadadas, etc. 

O full-lenght do Cemitério, de nome homônimo, conta com dez faixas do mais puro Death Metal Velho, e cada música é baseada em um filme clássico de horror das décadas de de 70 e 80. O Cemitério também lançou vídeos com cenas dos filmes Sexta-feita 13 e Quadrilha de Sádicos. Eles podem ser vistos em seu canal no Youtube.  

Com o clima natalino cada vez mais forte, este vídeo vem a calhar. Cuidado com o "bom velhinho".

Confiram o vídeo:



domingo, 30 de novembro de 2014

Entrevista Heavy Metal On Line | Apoiando o Metal Nacional

Recentemente, resenhei aqui o documentário O Homem e a Obra, produzido pelo programa Heavy Metal On Line. Entrevistei o realizador Clinger Teixeira, que além do programa que vai ao ar no Youtube, também é envolvido com fanzines e programa de rádio. Acompanhem a entrevista abaixo, falamos sobre o mercado underground no Brasil, apoio à bandas, o mainstream no país, dentre outros assuntos.


Por Jaime ‘Netão’ Guimarães

1. Saudações, Clinger. Primeiramente, obrigado pelo tempo cedido ao Under The Ground. Por favor, nos conte como surgiu seu interesse pelo Heavy Metal e como é sua relação com o underground.

Clinger: Meu interesse pelo Heavy Metal surgiu ao mesmo tempo do interesse pelo movimento underground, praticamente, pois assim que conheci bandas como Iron Maiden, também conheci Morbid Angel. Neste mesmo período comecei a andar com algumas pessoas que organizavam eventos aqui em minha cidade e meses depois, no ano de 1994, estava à frente do Segundo Show Thrash In Caratinga, trazendo o In Memorian (antiga banda de Black Metal do Leste de Minas) pra tocar em minha cidade. A partir daí não parei mais de executar ações em prol da cena nacional.

2. Você está à frente do Heavy Metal On line, que já está em sua 50ª edição. Em que contexto surgiu a ideia de criar o programa? Como você desenvolveu o formato? Houve muitas mudanças do primeiro programa para o atual? E qual as metas e o seu público?

Clinger:  Como sempre digo, a ideia surgiu da própria necessidade de apoiar a cena de uma forma que enquadrasse nos moldes dos meios de comunicação de hoje. Pois anteriormente editava um fanzine chamado Skeletons of Society e quando parei comecei a pensar no que fazer. Até que fiz um estágio numa TV aqui da minha cidade, apresentando um programa sobre meio ambiente, e peguei as manhas. Depois que fiz o primeiro fui desenvolvendo um formato mais direcionado ao underground, já que não tenho tesão pra ficar falando de mainstream, daí a coisa foi tomando forma e fui mudando e melhorando as edições.

HMOL entrevistando a banda Coldblood


3.  Como é a estrutura do HMOL e quem são seus parceiros na produção? Com qual frequência você grava os programas? É você quem edita o material? Vi que você utiliza sua casa como estúdio, o que pode facilitar. Como é o processo para produzir um programa?

Clinger: A estrutura do programa é bem limitada, tenho apenas uma câmera, poucas luzes, gravo na minha casa mesmo, eu mesmo edito e faço tudo na medida do possível, mas nunca deixo de fazer. Vejo muitas pessoas que tem inúmeras ideias na cabeça e não conseguem fazer nada. Eu sou bem diferente, talvez cometa alguns erros básicos por ser um cara muito acelerado e focado no objetivo principal. Possuo vários parceiros nos dias de hoje e estou lançando os programas mensalmente, todo início de mês e também lançando documentários semestralmente.

4. Além do HMOL, que é um programa audiovisual veiculado no Youtube e em redes sociais, você também é envolvido com um programa de rádio e fanzines. Quais as peculiaridades dessas iniciativas e como elas se inserem no underground atualmente?

Clinger: Então, tenho este programa de rádio na Metal Militia, que formatei juntamente com o Ed Rodrigues e Mônica, para apoiar as bandas que me enviam materiais, pois dou maior valor para as pessoas que tem o trabalho de postar no correio um CD pra mim. Valorizo isto demais e achei que divulgar o CD somente no programa webtv seria pouco demais pra estas pessoas que confiam em mim, enviando seus materiais. Acho que tudo é válido para difundir a música underground e aproveito o áudio das entrevistas para rolar na rádio também.

5. Há por parte de algumas pessoas uma espécie de “culto” ao zine impresso, que seria mais “underground” ou “verdadeiro”. Como você vê essa questão? Como você vê a importância de blogs, webzines e sites voltados para o metal?

Gosto muito do "culto ao zines impressos" hoje mesmo estava lendo aqui em casa o Fly Kintal do Sergio Figueiredo de Manaus, com o Pentacrostic na capa, gosto muito de ler os que chegam aqui pra mim e de vez em quando ler os antigos. Acho tudo fantástico e válido. Cada pessoa absorve melhor um tipo de material e apoio qualquer formato. Mas, por mais que eu tenha um programa webtv, acho o zine impresso uma obra de arte. 




6. Em relação à “grande” mídia especializada, Whiplash, Roadie Crew, Rock Brigade, etc. Como você encara a atuação desses meios de comunicação e sua relação com o mainstream e o underground? Alguns dizem que existe dois tipos de cena, uma que seria criada por estes veículos citados, e outra mais livre, que seria o underground. O que pensa acerca do assunto?

Clinger: Boa pergunta, mas já quero te passar minha visão sobre cena mainstream no Brasil. Pra mim ela não existe. METAL no Brasil é todo underground, por mais que os canais que você citou tenham mais acessos e visibilidade, sei que não é fácil sobreviver neste mercado. Sempre digo que no Brasil hoje não tem nem banda de Metal que podemos chamar de mainstream, que arrasta 5 mil pessoas pra uma casa de show ou estádio. O mercado está muito pequeno, a molecada hoje não tem mais aquele tesão de sair de casa, então a coisa se renova muito lentamente e o mercado não cresce. Não que a cena esteja ruim, muita coisa melhorou, mas quem seria mainstream no Brasil hoje? Max Cavalera tocou pra 900 pessoas em BH depois de ficar 14 anos sem tocar lá, então é muito pouca gente pra um cara que é considerado um ícone do nosso cenário.


7. Como é relacionamento do HMOL com a cadeia produtiva do underground? Vejo que você tem articulação com diversos selos, que te enviam material, e também apoia e cobre uma série de eventos e bandas.

Clinger: Sim, tenho muitos contatos, mas tudo voltado ao underground. As pessoas, os selos, as bandas do underground confiam mais no meu trabalho, enviam camisas, fazem questão de me convidar e credenciar pra seus eventos, mas a dita cena mainstream não dá muita bola, muitos me veem e fazem de conta que não me conhecem, talvez por ser um cara que more no interior de Minas, que não tenha uma produtora por traz, etc. Mas pra mim não faz diferença, minha meta sempre foi dar espaço pra quem quer espaço, não sou de ficar dando uma de tiete pra entrevistar banda, nem fico pedindo material, faço meu trabalho e dou mais atenção pra quem me dá atenção e confiança, só isso.

8. Além dos programas convencionais, o HMOL também realiza documentários especiais, como aconteceu com a cobertura do Refúgio Macabro. Fale sobre os projetos do programa. É verdade que está sendo planejado um documentário sobre as atividades da Cogumelo Records?

Clinger: Sim cara, faço alguns documentários, na verdade quando vou entrevistar alguma banda, seleciono uma pergunta pra colocar no documentário, que envolve sempre muitos temas que tenho em minha mente a muitos anos, como foi o caso do meu último que fala sobre a evolução musical de alguns estilos dentro do metal. Estamos fazendo um documentário sobre a Cogumelo Records de BH, mas ele deu uma parada devido algumas entrevistas ainda não terem sido feitas. Vai voltar a se realizar em 2015 para ser lançado no meio do ano. Ficará bem legal este também, pois terá figuras lendárias que se envolveram nos lançamentos realizados pela gravadora que marcaram época.




9. Você tem algum retorno financeiro com o programa, ou acha que é possível ter?

Clinger: Não tenho retorno financeiro e nem quero ter. Não quero entrar neste mercado pra ganhar dinheiro, sou claro com meus objetivos. Vejo muitas pessoas que montam uma puta estrutura com produtora e vão pro Youtube fazer um programa de metal, pra depois tentar um patrocínio ou se encaixar numa TV maior, e no final se frustram, porque ninguém contrata, nem patrocina. Já vi isto várias vezes. Tenho minha empresa aqui no interior de Minas, estou bem com ela a mais de 10 anos e não vou querer envolver nada de grana com o Heavy Metal On Line, porque sei que ninguém vai querer patrocinar um programa que tem o objetivo de entrevistar bandas do underground. Quero fazer tudo do meu jeito, sem pressão de ninguém, sem influência de grana, pra não mudar os objetivos.

10. Mais uma vez, valeu pelo tempo cedido, Clinger. Fica o espaço para quaisquer  mensagens. Parabéns pela iniciativa, mantenha-se forte!

Clinger: Valeu demais por ceder o espaço, adoro responder entrevistas, quem estiver lendo saiba que continuarei firme com meus objetivos.  Todos podem ver que mudei as edições do programa, mas nunca perdi o foco, nem mesmo a periodicidade em lançar. Podem contar sempre com o Heavy Metal On Line no que for preciso. Quem quiser conferir os programas anteriores, acesse em 


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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Moshpit | O código moral e os "bruce lees" da roda


Por Jaime "Netão" Guimarães

Segundo a Wikipédia (fonte de todos os meus conhecimentos) o mosh, ou moshpit, ou roda de pogo, ou apenas roda (ou apenas pogo), pode ser definido assim: “[...] forma de dança associada a gêneros musicais mais agressivos como o punk rock e o heavy metal. Nesta dança os participantes fazem movimentos bruscos como cotoveladas e joelhadas, pulam, correm, empurram e colidem entre si dentro de uma área circular delimitada. Embora o caráter violento da dança, não existe a real intenção de causar danos aos participantes.”

O fato é que esta excêntrica “dança”, surgida talvez com os movimentos punk/hardcore, tornou-se uma tradição de eventos de música pesada, assim como o stage dive (não confundir com mosh). Quem nunca se aventurou numa roda? (o duplo sentido não foi intencional). Pancadaria sonora frenética, um por um na bateria a todo gás, blast-beats vindos do inferno, d-beat puro sangue, amplificadores estourando seus ouvidos, muita birita, empurra-empurra e um calor infernal. Eu mesmo já perdi a conta de cotoveladas, chutes, socos, arranhões, puxões de cabelo, cabeçadas, mordidas, ameaças de morte e abraços de bêbado eu já recebi em alguns círculos infames deste gênero.

Claro, nem sempre – na verdade, na maioria das vezes – esses pequenos contratempos são voluntários (a não ser no caso das ameaças de morte). Em sua grande maioria, os participantes dessa brincadeira estão ali unicamente com intuito de se divertir, de extravasar.



Há um código moral implícito em meio a qualquer moshpit: Não pode entrar na malícia, dar soco na cabeça, dedos nos olhos e joelhada nas partes baixas; se “nego” cai no chão, não pode pisotear, tem que ajudar a levantar; não pode dar rasteira, nem cuspida; não pode entrar na roda com skate na mão (eu já presenciei isso); não pode tentar roubar a mochila do colega; não pode assediar, homens ou mulheres, pegar na bunda, dar dedada, etc...Quem for pego no flagra será cobrado.

No entanto, sempre tem um filho da puta pra querer atrapalhar tudo e machucar os meninos no mosh. É a figura do “bruce lee” da roda. Aquele cara que tá por ali gritando qualquer coisa, que já encheu a cara de “toddynho”, que está com a camisa do Pantera, Matanza ou The Trooper, do Iron Maiden, que tem índole de perversidade e alma de vagabundo de rua. Ele entra no pogo com os cotovelos em forma giratória e atacando feito um kamikaze. Quase sempre calçando uma bota de trilha, chega chutando as canelas alheias sem pena alguma, deixando a marca do sapato estampada. Ele é aquele chato que puxa a galera que tá fora do círculo para dentro e começa a empurrar todo mundo.



Quando o bruce lee da roda começa a agir, logo é notado. O pessoal já fica de olho. Alguns se retiram, outros esperam pra dar o troco e/ou intimá-lo. Claro, não é questão de “moleza”, todo mundo sabe que a roda é brincadeira de gente grande, e que quem entra está pondo picos de adrenalina e energia pra fora. Mas não vamos exagerar, né? Já vi gente colocando protetor bucal e tudo, se preparando pra foder a turma. (risos)


Resumindo, não seja o bruce lee da roda. Ostente essa bandeira, vamos fazer disso uma corrente. O bruce lee é aquele cara que entra pra igreja e queima os vinis. É o maluco que bebe a cerveja do cara que tá no palco tocando. Ele é o cara que mexe a boca pra dizer que sabe a letra da música, mas não sabe. Quando sua mãe diz que “no rock só tem ignorante e gente duvidosa” ela está falando do bruce lee.



Há algum tempo encontrei pelo youtube o curta-documentário Roderia (Death Metal), de 2004. De direção de um maluco chamado Léo Je$u$, o curta foi gravado durante um show do Napalm Death no Rio de Janeiro; e mostra como acontece uma roda. Durante o filme são apresentados os “rebatedores”, os caras mais “insanos” daquele moshpit. Os personagens falam da energia que é entrar em uma roda de pogo, alguns falam em “espancar os metaleiros”(risos), outros dizem que tudo não passa de um esporte. Entre as figuras estão eles, os bruce lees escrotizantes. Vale a pena assistir.


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E não seja a porra do bruce lee da roda, morô?!